A empolgação neoliberal de que a história havia sido,
afinal, vencida desfez-se juntamente com cada bloco que virava pó do World
Trade Center.
O atentado terrorista organizado por Bin Laden representou
entre outras coisas o recado duro de que enquanto houver humanidade, nunca se
encerrará a História.
E, em termos históricos, atentados terroristas não
representam uma novidade, nem mesmo é possível dizer que os ataques da Al-Qaeda
foram mais mortíferos ou mais destrutivos materialmente do que os atentados do
passado – mas o que importou é o símbolo, sempre o símbolo.
Assim como a queda da Bastilha não foi simplesmente a tomada
de uma cadeia empoeirada e mal vigiada, aqueles aviões que atingiram prédios
simbólicos dos EUA foram mais que um assassinato coletivo brutal.
Ainda não se pode dizer ao certo quais foram e quais serão
os impactos daqueles atos. Mas inconfundivelmente é possível perceber que o
mundo se tornou um lugar mais tenebroso do que era antes.
E essas trevas se devem menos a Bin Laden do que a Bush e
seus seguidores do assustador Tea Party.
É que o medo que assolou a todos os estadunidenses depois daquele dia, abriu
caminho para que o presidente daquele país e sua equipe impusessem uma série de
medidas que aumentaram o controle social, relativizaram liberdades individuais
e coletivas, radicalizaram a ideologia neoliberal (essa sim o pior dos
fundamentalismos como que convivemos) e permitiram que nas relações
internacionais se convivência com essa excrecência clamada pela Doutrina Bush
de “ataques preventivos”.
Depois de os fanáticos da Al-Qaeda destruíram todas aquelas
vidas, a comunidade internacional não teve força e os líderes internacionais
não tiveram vontade de unir esforços para um verdadeiro combate ao terror:
pensar em formas concretas de proteger uma criança afegã ou palestina ou
sudanesa ou brasileira ou de qualquer país dos assédios do crime organizado ou
do terrorismo, principalmente permitindo que ela tenha oportunidades de seguir outro
rumo.
Isso não foi feito, mas ainda pode ser feito. Aí sim
estaríamos prestando uma grande homenagem a todos aqueles inocentes que
perderam suas vidas naquela tragédia. Aliás, em tempo, é preciso não
relativizar o horror das vítimas do 11 de setembro de 2011, com outras vítimas.
Isto é, os chilenos que foram vitimados pelo golpe de 11/09/73 não são mortos
mais autênticos que os americanos – isso é uma ideia macabra! Uma agenda
libertária da humanidade não pode esconder uma satisfação cínica de que “finalmente
alguém teve coragem de atacar aqueles imperialistas, bem feito!”, nem sequer pode
se pautar por uma contabilidade funerária em que um evento em que morrem 10
pessoas é menos importante do que aquele em que morrem 12 – não, não não! A
vida deve ser um valor absoluto e inegociável e a morte covarde de um único ser
humano é injustificável – não interessa que ele seja o mais tacanho
dos reacionários ou o mais promissor dos revolucionários.