domingo, 11 de novembro de 2007

O Testamento Político de D. Luís da Cunha

Só pra não deixar o blog criando moscas...

D. Luís da Cunha

(Lisboa, 25 de Janeiro de 1662 — Paris, 9 de Outubro de 1740) foi um diplomata português que serviu o rei D. João V. Foi comendador da Ordem de Cristo, arcediago da Sé de Évora, desembargador do Paço, enviado extraordinário de Portugal às Cortes de Londres, Madrid e Paris, e ministro plenipotenciário no Congresso de Utrecht. Pertenceu também à Real Academia de História.

Aqui, o download do seu Testamento Político, no qual sugeria ao rei dois homens de boa visão para o coadjuvarem no Governo: Gonçalo Manuel Galvão de Lacerda, que havia servido longos anos no Conselho Ultramarino, e Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro marquês de Pombal, que se podia destinar à pasta do Reino, descrevendo-o como homem com sentido de realidades, cauteloso a formular projectos mas determinado em sua firme execução.

Fonte: Wikipedia




quinta-feira, 21 de junho de 2007

A Ideologia Alemã

Mais uma da série de e-books para todos! Agora é a vez d'A Ideologia Alemã, de Karl Marx.


A Ideologia Alemã (no original alemão: Die Deutsche Ideologie) é o primeiro livro escrito em parceria por Karl Marx e Friedrich Engels (mas não o primeiro a ser publicado em parceria). É considerado como um dos mais importantes livros escritos por estes dois autores e marca uma fase intelectual mais avançada de Marx, além do rompimento do mesmo com o chamado hegelianismo de esquerda. O objetivo fundamental da obra é fazer uma crítica aos "jovens hegelianos", principalmente os filósofos Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer e Max Stirner (que dão títulos aos três capítulos do livro), como produtores de uma ideologia alemã conservadora, apesar de se auto-denominarem teóricos revolucionários. Marx aponta para o fato de que as transformações perpetradas por estes filósofos se encontram somente no plano do pensamento sem nunca terem alcançado a realidade concreta. Isto por que cada um deles, criticando a teoria hegeliana, adotam um aspecto desta para fazer tanto, sem romperem com a falsa noção, segundo Marx, de que é o espírito humano o sujeito da história e não a atividade humana. Assim para tais filósofos, as idéias adquirem autonomia e passam a subjugar mundo, devendo o pensador, para transformar a realidade, substituir as idéias reinantes por outras que considere libertadoras e verdadeiras (uma consciência humana para Feuerbach, crítica para Bruno Bauer e egoísta para Max Stirner). A elaboração do manuscrito foi concluída em 1846, apesar de ainda não possuir uma redação definitiva. De acordo com o que é informado no prefácio do livro Para uma Crítica da Economia Política, não foi possível a imediata publicação de tal material. No entanto, os autores não demonstraram amargura com isso:

"Abandonamos tanto mais prazerosamente o manuscrito à crítica roedora dos ratos, na medida em que havíamos atingido nosso fim principal: ver claro em nós mesmos."

Publicado postumamente e parcialmente ao longo dos anos, chegou totalmente ao público apenas em 1933, simultaneamente lançado em Leipzig e Moscou. No Brasil, houve uma edição integral em dois tomos na década de 1980 mas, no entanto, atualmente existem apenas publicações parciais da obra no referido país. Tais problemas editoriais costumam ser apontados como ponto de origem de diversos desentendimentos entre vários movimentos político-ideológicoss existentes no mundo.

Fonte: Wikipedia

Ocupação da Reitoria

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Os sete erros de Serra

A Constituição e a autonomia universitária

O que é ser de esquerda?

IGREJA

Dom Pedro Casaldáliga, bispo católico
Ser de esquerda deveria ser optar pelos pobres, optar pela justiça, condenar o capitalismo e o liberalismo, possibilitar participação real do povo. Sempre tem tido gente mais radical ou menos, mas hoje se está querendo justificar umas certas esquerdas que acabam sendo, quando muito, o centro. E eu digo que o centro não existe, ou é direita ou é esquerda. (...)

POLÍTICA

Chico Alencar, historiador e deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro.
Ser de esquerda tem algumas permanências. Em primeiro lugar, não perder a dimensão da utopia, da possibilidade pela qual se luta por uma sociedade igualitária, solidária e radicalmente democrática. Inclusive, com a socialização dos meios de produzir e de governar. Ser de esquerda é recusar que as idéias hegemônicas no mundo são as neoliberais, que se traduzem pelo caminho único na economia e pela despolitização da política. É não fazer efetivamente o jogo da direita aderindo com sutilezas cada vez menores ao programa neoliberal hegemônico. (...)

Jorge Bornhausen, advogado e político
Eu acho que é diletantismo, porque o próprio presidente da República, que se diz de esquerda, não segue qualquer linha ideológica, nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. Essa divisão entre esquerda e direita é algo absolutamente superado. Hoje, a política é uma política de resultados para o cidadão, e ele não está preocupado se o político se diz de direita, de esquerda ou de centro. (...)

UNIVERSIDADE

José Arthur Giannotti, doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo e professor emérito do Departamento de Filosofia da USP.
Esquerda é a não-aceitação do status quo. Ter esperança de que possamos ter um mundo melhor, e a certeza de que podemos aglutinar as pessoas para mudar.

Mas, no campo universitário, aqueles que se chamam esquerda são basicamente os burocratas da cultura. E aqueles que fazem as pesquisas e que contribuem realmente para o avanço das ciências e das artes são apolíticos. Embora, a meu ver, sejam a ponta renovadora da universidade.
(...)

Wanderley Guilherme dos Santos, doutor em Ciência Política pela Stanford University
Conceitualmente, eu não sei o que é esquerda. Eu sei na prática. Sei quem é de esquerda, quem não é de esquerda.

No contexto brasileiro, hoje, são personalidades e partidos de esquerda as pessoas comprometidas com a alteração da distribuição de renda, com a retomada de crescimento econômico, com a criação de graus de liberdade no comportamento internacional do país, com um aumento das oportunidades de participação política dos grupos menos favorecidos.
(...)

PROPAGANDA

Celso Loducca, publicitário, presidente e diretor de criação da agência Loducca 22.
Depois de tudo que já vivi, ser de esquerda é lutar por justiça social, por igualdade de oportunidades, pelo direito das minorias, por uma relação mais harmônica com o planeta, com os habitantes do planeta, lutar por um crescimento sustentável que ajude tanto a justiça social quanto o meio ambiente, é lutar por uma coisa assim meio louca que é a ética. Hoje, muita gente já está consciente dessas pautas todas e não necessariamente encara isso como de esquerda. Estão se tornando pautas da humanidade, não de esquerda e direita. Mas estão se tornando, ainda não são. Por isso, ser de esquerda é lutar por essas pautas de interesse da humanidade, não por pautas pessoais, ou de interesses específicos de grupos, que são pautas de direita. (...)

IMPRENSA

Paulo Henrique Amorim, jornalista, colunista do UOL. Tem o blog Conversa Afiada no portal IG.
Esquerda pra mim hoje, no Brasil, são as pessoas que diante da pergunta básica que se impõe à sociedade brasileira – o que é mais importante, reduzir os impostos ou distribuira renda?, e não vale responder os dois – acham que a prioridade é distribuir a.renda. (...)

Tereza Cruvinel, colunista política do jornal O Globo e comentarista da Globonews.
A propósito da lenda de que os rótulos ideológicos perderam o sentido e o significado no mundo de hoje, gosto de uma velha tirada da Simone de Beauvoir, que dizia, já naquele tempo: “Se lhe apresentarem um homem que se apressa a dizer que não vê diferença entre esquerda e direita, tenha certeza de estar falando com um homem de direita”. (...)

EMPRESARIADO

Paulo Skaf, presidente da FIESP e empresário do ramo têxtil
Houve um tempo em que as pessoas politizadas se dividiam entre a direita, o centro e a esquerda. Havia, inclusive, uma chamada “esquerda festiva”, como também uma “direita radical”. Era a época da Guerra Fria, do Muro de Berlim, do “comunismo vs. capitalismo”. Hoje, mesmo com a evolução do mundo, sobreviveram alguns conceitos daquele período que já fazem parte do passado. Infelizmente, em qualquer ideologia, ainda há radicais, defensores da violência, não democratas e inimigos do diálogo, da liberdade e da paz. Mas também ficaram alguns valores importantes, como a solidariedade, a fraternidade, a igualdade, que, muitas vezes até romanticamente defendidos pelos esquerdistas nos anos 60, 70 e 80, ainda ajudam a promover justiça social nos dias de hoje.

SINDICATOS

Artur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT – Central Única dos Trabalhadores.
Eu me considero de esquerda e, como socialista, não penso no modelo existente em outros momentos históricos, mas continuo sendo uma pessoa que pretende atuar na transformação do modelo econômico vigente no mundo. Não são só o crescimento e o desenvolvimento econômico que interessam, mas que tipo de crescimento econômico queremos para o Brasil e para o mundo. (...)

Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PDT.
Depois do PT, não sei se há esquerda ou direita. Eu me considero uma pessoa que vive defendendo o direito do trabalhador, defendendo um crescimento amplo. Se uma pessoa é qualificada (de esquerda) por aí, eu acho que sou, devo ser. Mas acho que esse negócio de esquerda está muito fora de moda atualmente. (...)

JUDICIÁRIO

Luiz Fernandes de Souza, Procurador Regional da República
Esquerda hoje é o Chávez, o Evo, Fidel. Também alguns padres que atuam nas Farc, lá na Colômbia. Claro que, afora esses, o próprio governo do Brasil também está nesse campo, tal como os governos do Chile, do Uruguai e da Argentina.

Ser de esquerda é o que o Alceu Amoroso Lima dizia: é caminhar para um socialismo com liberdade, com democracia, com distribuição ampla de bens. (...)

MOVIMENTOS SOCIAIS

André Fischer, criador do Mix Brasil, portal de informações GLBT, atua como dj e host do programa Rádio Mix Brasil no portal Mix Brasil.
(...) Teoricamente, ser de esquerda significa priorizar as questões sociais sobre as questões econômico-financeiras.

Dentro do movimento gay há uma corrente que ainda acredita que é impossível militar pela causa sem ser de esquerda. Até o começo desta década, a quase totalidade do movimento era composta por filiados de um espectro de partidos que ia do PSTU ao PT. Hoje, no entanto, essa linha tem espaço cada vez mais reduzido entre as lideranças. (...)

Gustavo Petta, presidente da UNE – Unial Nacional dos Estudantes – e aluno de jornalismo da PUC-Campinas
Ser de esquerda é você, diante da realidade que vivemos, diante das desigualdades, das injustiças, é você se inconformar e de alguma forma lutar contra isso. É lógico que eu acredito que só vamos superar essas realidades com transformações mais profundas e radicais, com a sociedade socialista. Agora, não necessariamente, para ser de esquerda, você precisa acreditar nessa transformação mais profunda. (...)

Sueli Carneiro, formada em Filosofia e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra
É acreditar que outro mundo é possível, no qual se pode viver livre, democraticamente, com justiça e igualdade social, respeito aos direitos humanos, econômicos, sociais e culturais; portanto, é o desafio de construir um mundo isento de qualquer forma de opressão e discriminação, sobretudo de gênero, raça e etnia. Isso é tudo o que o modelo hegemônico globalizado não pode assegurar. (...)

Fonte: Caros Amigos

domingo, 10 de junho de 2007

Entrevista – Olgária Matos

Polícia na USP é ‘mais do que autoritarismo’ , diz filósofa

A renomada filósofa Olgária Matos e outros 300 intelectuais firmam abaixo-assinado no qual rejeitam a 'ação violenta de desocupação do prédio [da Reitoria]' da USP. Para ela, os estudantes deram 'uma aula de democracia ao poder instituído na universidade'.

SÃO PAULO - Signatária de um abaixo-assinado que pede novas negociações da reitora Suely Vilela com os estudantes que ocuparam a Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), no campus Butantã, em São Paulo, a professora titular de Filosofia, Olgária Matos, chama de “absurda” a hipótese de a Tropa de Choque realizar o despejo forçado da ocupação. Olgária é especialista em filosofia política e História da Filosofia, com enfoque no iluminismo. Ela lançou livros como “Discretas Esperanças”.

Assim como Olgária, outros 300 professores da USP assinam a petição e rejeitam “qualquer ação violenta de desocupação do prédio [da Reitoria], tendo em vista a justeza de sua causa política em defesa da universidade pública”. Dentre os que assinam o documento estão os professores Antonio Candido, Alfredo Bosi, José Miguel Wisnik, Marilena Chauí, Franklin Leopoldo, Luiz Tatit, Paulo Arantes, Maria Victoria Benevides e Leda Paulani.

“Em vários países do mundo, a universidade está a salvo das ingerências policiais, porque ela é a única capaz de garantir pensamento livre”, diz Olgária, para quem as “novas idéias” não podem ser limitadas.

“É claro que muitos professores não acham [a ocupação] uma atitude que deve ser promovida ao status de arma política ou forma de luta política”, pondera a professora. Porém, ela faz questão de lembrar que “enviar a Polícia Militar, neste caso [de ocupação], é como intimidar um movimento civil, intelectual e político dos estudantes”.

Confira, abaixo, a edição das melhores partes da entrevista:

Carta MaiorComo a senhora vê uma provável desocupação da reitoria da universidade mediante uso da força policial?
Olgária Matos – Seria gravíssimo se isso viesse a acontecer. Parece-me que o significado das reivindicações dos estudantes é legítimo, o que deve ser discutido com a Reitora e não com a Polícia Militar.

Acredito que esta ocupação foi uma fórmula para estes jovens darem uma aula de democracia ao poder instituído na universidade. Eles devem ter consciência total ou parcial do que está acontecendo, e assim se faz o difícil aprendizado democrático que as autoridades universitárias não conseguem entender.

CM - A senhora, que tem uma longa história na universidade, já presenciou este tipo de ação da Polícia Militar dentro do campus?
Olgária - Eu só me lembro da ocupação do prédio da Maria Antônia [batalha ocorrida em outubro de 1968 entre estudantes de Filosofia da USP e da Universidade Mackenzie]. Foi o dia mais triste da história desta instituição e de todas as universidades do Brasil, se você quer saber.

CMQual o significado simbólico da presença da Polícia Militar no campus? Trata-se apenas de autoritarismo?
Olgária - Não é autoritarismo, é pior. Porque quando há autoritarismo, ele previne muitas vezes o uso da força policial, porque já faz [implicitamente] o papel de polícia. Não é que os policiais sejam maus. Mas o que significa a presença da polícia armada dentro de um campus, sendo que as nossas únicas armas são os livros e o pensamento?

É muito grave, porque se ocorrer isso, serão armas desiguais, e o recinto universitário é um lugar que fica distante do conflito armado urbano. Enviar a Polícia Militar neste caso é como tentar intimidar um movimento civil, intelectual e político dos estudantes. Seria responder a isso com a força bruta, então é totalmente absurdo.

CMA senhora diz que as reivindicações são legítimas. O que pensa da ocupação na Reitoria?
Olgária - Eu acho que os estudantes que lá estão têm consciência de que eles não representam todos os estudantes, todos os professores e todos os funcionários da universidade. Se eles discutiram e na dinâmica do movimento estudantil foi decidido assim, não cabe a nós julgar.

Não sei, mas talvez eles se sintam desatendidos e não encontraram quem intermediasse as suas reivindicações. Acho que [ocupar] foi uma atitude extrema, mas toda esta politização amadurece e ensina. Todas as reuniões, estas discussões, tudo isso esclarece a consciência dos atos dos alunos. Isso amadurece a vida política da universidade e dos estudantes. Antes de avaliar se é legítimo ou não, acho que vale olharmos a politização que o ato teve e em como isso vai ficar na história da universidade.

CM - Existe um consenso dentre os professores de que utilizar a força policial para fazer a desocupação da Reitoria é desnecessário?
Olgária - Os professores não querem violência na desocupação. O que não é consenso é sobre a ocupação ou não da Reitoria. Há professores que crêem que ocupar este prédio é um excesso de ativismo. Simbolicamente é um lugar muito importante, é o lugar da autoridade, a Reitoria, que é necessária para coesão de toda a vida universitária.

É claro que há muitos professores que não pensam que [a ocupação] é uma atitude que deve ser promovida ao status de arma política ou forma de luta política. Agora, parece que as últimas gestões da Reitoria e das direções dos cursos vêem os estudantes como uma parte desprezível ou secundária na vida universitária. Na verdade, a razão de ser da USP é a docência e a pesquisa, que não são duas coisas separadas.

A docência existe, então é essencial existirem aulas. Eu acho que os estudantes são a matéria nobre da instituição, e vejo uma desconsideração [da Reitoria].

Se a reitora Suely Vilela marca uma audiência pública e não pode aparecer [primeira razão do protesto dos estudantes], ela deveria enviar alguém, um representante. Os estudantes não estão [fazendo a ocupação] em uma causa vazia. Eles querem defender a universidade. Em vários países do mundo, a universidade está a salvo das ingerências policiais, porque ela é a única capaz de garantir pensamento livre. As novas idéias não podem ser cerceadas.

Então você tem que responder intelectualmente ao movimento estudantil, que está fazendo uma defesa da autonomia universitária. Não é só autonomia orçamentária, mas é de pesquisa e de deliberações. É uma questão de filosofia política séria. E mais: é uma questão de dignidade institucional. Não dá para inverter uma lei que foi conquistada com muita luta dos docentes, depois de um longo período de ditadura. Ou seja, estes decretos causam uma reação instantânea de quem entende o que é a universidade.

A sociedade brasileira entende mal o papel de uma universidade, infelizmente. Nosso país tem elites avarentas no seu conhecimento, que não querem compartilhá-lo com a sociedade. A universidade é mal-entendida, por isso há espaço para a reitora Suely não se dispor a negociar mais. Até agora, os professores tentaram fazer algumas comissões para negociar com ela. Mas Suely não recebe nem estes grupos, formados às vezes por professores universitários e intelectuais renomados.

CMA senhora acredita que os decretos de fato ferem a autonomia universitária?
Olgária – Claro que ferem! Só a idéia de ter um decreto já fere a autonomia. Não dá para dizer o contrário quando existe uma rotina consolidada na universidade mais importante da América do Sul, e que acaba alterada desta forma.

A universidade sabe o que faz, o que precisa e o que conduz. Ela presta periodicamente contas ao governo, e sabe a dinâmica de seus cursos, de suas publicações, de suas relações com docência, pesquisa, extensão, os congressos, as relações com outras universidades, com o ensino superior estrangeiro. O governo que está fora dela vai deliberar se o que a universidade faz está correto ou não, se tem qualidade ou não?

O governo é uma instância burocrática político-administrativa externa à universidade, que tem que dialogar. Mas não é na forma de decreto que se cria esse diálogo. Fazer os decretos é uma expropriação das práticas e consciência universitária, isso é gravíssimo.

Estamos vivendo o fim da universidade pública, gratuita e de qualidade. Não é um ataque isolado. Trata-se de um processo maior do que o governo de José Serra (PSDB-SP), que é só um emissário desta situação [de mercantilização] das universidades.


Fonte: Agência Carta Maior

quinta-feira, 7 de junho de 2007

A re-volta da política

Editorial - Carta Maior

Contra todos os prognósticos, a ocupação da USP resistiu à má-fé do tucanato, ao imobilismo de uma esquerda engessada no aparelho federal e de um PT em rota de colisão suicida contra a própria história. Bem-vinda re-volta da ação política.

O movimento estudantil brasileiro tem uma história de luta e resistência, em defesa da democracia e de um projeto de desenvolvimento para o Brasil, que combine crescimento, combate à pobreza e justiça social. Foram os estudantes que, na época da ditadura militar, assumiram a linha de frente contra um regime autoritário, implantado no país a ferro e fogo, com o apoio das elites que conspiraram para derrubar o governo constitucional de João Goulart. Foram os estudantes que doaram sua energia, sua paixão e, muitas vezes, sua vida, para iniciar um movimento de resistência que durou vários anos e que culminou com a redemocratização do país. Foram os estudantes que criaram, em 1961, através da União Nacional de Estudantes (UNE), o Centro Popular de Cultura, reunindo artistas e intelectuais de diferentes áreas com o objetivo de construir uma cultura nacional, popular e democrática. A história de mobilizações dos estudantes brasileiros é, portanto, uma história de luta em defesa da justiça, da liberdade, da democracia e da melhoria de vida de um povo sofrido.

Agora, em 2007, foi preciso a teimosia de um grupo de estudantes que ocupou e sentou praça na reitoria da principal universidade brasileira, a USP, para que a opinião pública tivesse conhecimento do bolor germinado no ambiente acadêmico, após 12 anos de hegemonia tucana em São Paulo. Enquanto pode, o governador José Serra (PSDB), que fez campanha eleitoral enaltecendo o longínquo passado de ex-presidente da UNE, apascentou a letargia na qual florescem os letais cogumelos de irrelevância da ação política no país. Primeiro, tentou desqualificar as acusações contra decretos que ferem a autonomia constitucional das instituições de ensino superior do Estado, classificando-as como “uma ação política” (sic) de grupos privilegiados, que estudam de graça, lotam os pátios do campus com carrões último tipo e - só faltou dizer - saem de lá às sextas-feiras para altas baladas em clubes privês.

O decreto, portanto, era “republicano”, encenou em seguida, para repetir o cacoete elitista sempre que se trata de colocar o interesse da maioria sob intervenção pressurosa da plutocracia. A neblina retórica mal disfarça o deslocamento de um político que flutua no cargo enquanto espera pelas eleições de 2010. Submetido a um orçamento quase todo ele carimbado e sob a canga de uma Lei de Responsabilidade Fiscal criada pelos seus pares, Serra clama por oxigênio orçamentário para saciar o apetite de um projeto eleitoral. O cargo administrativo, paradoxalmente, sufoca seu projeto de chegar ao poder federal. Está desconfortável no papel que inventou para si mesmo. Os R$ 5,5 bilhões de reais dos orçamentos da USP, Unesp e Unicamp - algo como 9% da arrecadação do ICMS - surgiram à sua frente como o cofre ao alcance das mãos. E não adiantou intelectuais de esquerda, seus amigos, professores universitários, advertirem que o tiro sairia pela culatra. O apetite eleitoral cegou a visão administrativa e até mesmo o tirocínio político.

Contra todos os prognósticos, porém, a ocupação resistiu à má-fé do tucanato, ao imobilismo de uma esquerda engessada no aparelho federal e de um PT em rota de colisão suicida contra a própria história. E porque resistiu, ficamos sabendo então, finalmente, o que há por trás da imagem idílica que os tucanos de bico longo e idéias curtas vendem sobre a USP.

Há uma lista de mais de 800 alunos na fila de espera por uma vaga na residência universitária do campus da “elite” do país. Há um grupo que se cansou de esperar e mora num cortiço debaixo da arquibancada do centro esportivo universitário. Há meninas que tomam banho no chuveiro do estádio espiadas por seguranças, porque os vidros estão quebrados e ninguém nunca vai consertar. Ficamos sabendo que a luz das arquibancadas se apaga às 20 horas e que é preciso arrastar mesas e cadeiras para debaixo de um holofote externo para poder estudar. Que há classes com mais de 50 e até 60 alunos na Geografia e na História; que o concreto do prédio da FFLCH está caindo aos pedaços há anos e não há verbas para reforma, assim como não há e não haverá verbas para contratar mais professores no futuro, e que a situação vai piorar, segundo o prognóstico do diretor da faculdade, o sociólogo Gabriel Cohn.

Ficamos sabendo que o custo mensal por aluno na principal universidade brasileira é da ordem de R$ 2.300, contra R$ 26 mil em Harvard; e que os R$ 2.300 incluem não apenas a “mordomia” da turma que se abriga em quartos de tripla ocupação, mas o salário dos professores; a aposentadoria dos funcionários idosos; parte da pesquisa; a manutenção de laboratórios e a produção acadêmica que aumentou 51% nos últimos anos, enquanto o número de alunos cresceu 70% e o de professores não chegou a um terço disso. Ficamos sabendo, enfim, que a frustração profissional dos formandos, a exemplo do que ocorre com a juventude mundial mastigada nas engrenagens da deslocalização fabril, segue uma linha de continuidade incubada no descuido, no desalento, na despolitização e na opacidade intelectual que lateja na rotina desbotada desse conto de fadas da universidade de elite, ainda vendido pela mídia quatrocentona.

A elite paulista na verdade vendeu a fábrica da família e os novos big boss querem uma universidade que sirva para adestrar quadros just-in-time. E pesquisas com a mesma agilidade mercantil. “Operacionais”, diria o governador no decreto obsequioso aos mercados, mas repelido pelos estudantes, professores e funcionários, decretos que ele já atenuou duas vezes, sem convencer. Não convence porque os estudantes, os mestres e os funcionários enxergam o reboque caindo pelas paredes, os salários despencando nos holerites e esperanças profissionais escorregando pelos mercados desregulados. E porque disseram que não cola, de repente uma palavra insípida, branca e lisa como um azulejo de banheiro voltou a cintilar no verbete gasto de um país, cujo léxico e nexo continua na mira da ortodoxia conservadora e pelo cinismo supra-partidário.

“Autonomia”, dizem as faixas e os ocupantes de reitorias pelo Estado afora. “A autonomia está garantida”, respondem, nervosos, assessores do governador, enquanto a massa acossa as vizinhanças do palácio. Que país, afinal, ou melhor, que projeto de sociedade finalmente pulsa outra vez sob essa palavra-ônibus que os robóticos editorialistas conservadores querem circunscrever numa cabeça-de-alfinete jurídico-burocrática ou acomodar num patinete infantil? Eis a pergunta que a partir de agora estudantes, professores e funcionários terão que encarar. Depois de ressuscitarem as ruas e os campi, chegou a hora de decifrar esse enigma que sacode as maçanetas e força os trincos do ambiente embolorado de pragmatismo e da preguiça intelectual no qual florescem os cogumelos da irrelevância partidária brasileira. Bem-vinda re-volta da ação política, que mais uma vez na história brasileira renasceu das universidades, das lutas de estudantes, professores e funcionários – e que ela venha para invadir outros ambientes, crescer e multiplicar-se.

Fonte: Agência Carta Maior

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Pedro Taques

Mais um e-book para o deleite dos historiadores. História da Capitania de São Vicente, de Pedro Taques.

Pedro Taques era filho de Bartolomeu Pais e Leonor de Siqueira, sobrinho-neto de Fernão Dias e tetraneto de Brás Cubas.

Dentre suas obras, destacam-se a Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica (em três volumes) e a História da Capitania de São Vicente.

Fonte: Wikipedia

sexta-feira, 1 de junho de 2007

O velho Capistrano

Próximos de relembrar os 80 anos da morte de Capistrano de Abreu, aqui vai uma pequena biografia do nosso historiador, tirada da Wikipedia (tudo bem, eu confesso) e um presente para os colegas historiadores e demais interessados - o download de um dos mais importantes livros do autor, Capítulos de História Colonial.

João Capistrano de Abreu fez os seus estudos primários e secundários em Fortaleza e no Recife, mudando-se para o Rio de Janeiro em 1875. Nesta cidade empregou-se como caixeiro, na famosa Livraria Garnier, passando a colaborar no periódico Gazeta de Notícias. Nomeado oficial da Biblioteca Nacional (1879), inscreveu-se em concurso do Colégio Pedro II para o cargo de professor de Corografia e História do Brasil (1883). A tese que apresentou versava sobre o Descobrimento do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI, considerada como uma das mais importantes obras em historiografia de história do Brasil. Aprovado, tomou posse do cargo em 23 de Julho de 1883, tendo-o exercido até 1899, quando Epitácio Pessoa, então ministro da Justiça, determinou anexar o ensino de história do Brasil ao de história universal. Em sinal de protesto, Capistrano recusou-se a lecionar a nova disciplina, preferindo manter-se em disponibilidade para se dedicar à pesquisa.

Fonte: Wikipedia

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Em greve!

Os alunos da USP entraram em greve. A decisão foi tomada por nós, ontem à noite, em frente ao prédio da Reitoria, ocupado há mais de duas semanas pelos alunos e, agora também, pelos funcionários da USP.

Escolha corajosa e difícil que, ao contrário do que muitos possam pensar, é sempre tomada a contragosto pelos estudantes. Isso porque nenhum de nós gosta de parar as aulas, ter que repô-las a toque de caixa, atrasar semestres, ter que fazer protestos. Mas há momentos em que somos chamados a fazer isso por mais incômodo que nos cause, há momentos em que simplesmente é preciso que se faça algo.

Os estudantes que ocuparam a Reitoria são verdadeiros exemplos de consciência política e são responsáveis pelo contragolpe sofrido pelo governo do estado e pela reitora nos assédios que estes vêm infringindo no ensino público.

As decisões e a postura do governador Serra, em quem confesso ter votado, são repulsivas e não condizem com a história pessoal do governador. Bloquear verbas e suprimir a tão necessária autonomia universitária são tristes, porém evidentes, demonstrações do desinteresse do governador para com a educação e caracterizam como mentirosas as propostas eleitorais de José Serra para a essa área. Ora, que idéia se pode fazer de um governador que rasga seu projeto de governo tendo tão-somente tomado posse do cargo?

Se a alguém pode parecer que a autonomia universitária é algo cosmético para a vida acadêmica, gostaria de convencê-lo do contrário. Os governos federal, estaduais e municipais estão de um modo geral reféns dos interesses econômicos de grandes corporações e condicionam – em não raras oportunidades – os interesses públicos àqueles mencionados e assim põem em risco garantias e direitos de todos os cidadãos. A quem duvida disso convém perguntar: por que o governo federal tem mais de 150 bilhões de reais para pagar anualmente em juros a bancos e fundos internacionais, mas não tem dinheiro para melhorar a situação da saúde no país? Por que em S. Paulo se arrecada tanto dinheiro com multas de trânsito todos os dias, mas não sobra nada para construir mais linhas de metrô ou comprar mais trens e diminuir o tempo de espera nas estações e o desconforto nas viagens? Por que há dinheiro para reformar áreas de circulação de pessoas de alta renda, mas não há verbas para urbanizar favelas? Perguntas instigantes às quais sinceramente não tenho respostas exatas, apenas uma suspeita: o Estado no Brasil não existe em função de defender os interesses do seu povo constituinte, mas subsiste acoelhado, mendicando ajuda aqui e ali, vendendo barato o que deveria ser protegido como patrimônio público.

As verbas dirigidas para a universidade pública têm destinos bem diversos. Por não estarem tão diretamente influenciadas pelos grandes interesses econômicos, as universidades públicas no Brasil, e especialmente falando de S. Paulo, têm interesses e missões muito diferentes das dos governantes atuais. Desenvolver o pensamento crítico na sociedade, pesquisar alternativas ao tratamento na área de saúde aos mais necessitados, desenvolver tecnologia nacional são algumas das lutas da universidade pública para criar uma sociedade nacional mais livre e mais independente. Objetivos que rotineiramente entram em choque com aqueles que querem aprofundar a dependência do Brasil às potências econômicas. E é pela defesa dessa missão da universidade pública que é necessário, simplesmente é necessário que se faça algo. Nossos laboratórios não podem perder tempo com pesquisas em cosméticos, quando há pessoas morrendo de doenças tropicais, nossos estudantes não podem aceitar que o Brasil volte aos tempos coloniais plantando cana-de-açúcar para o mundo europeu e norte-americano, quando há tantas melhores alternativas para a vida econômica e energética do Brasil, não podemos nos conformar que a história tenha chegado a seu fim, precisamos nos libertar da prisão do presente e refletir sobre o nosso passado e o nosso futuro de modo mais sério e iluminado.

Pela defesa da universidade pública, da educação, da crítica, da cidadania, da qualidade de ensino entramos em greve. Se a educação é prioridade para o governador, que seja de fato! Que as políticas de seu governo colaborem para a melhoria e a expansão da educação, essa ferramenta essencialmente emancipadora.

Entramos em greve, mas convém questionar os rumos que essa greve tomar. O movimento estudantil deve estar bastante atento ao direcionamento que será dado a esse movimento, não podemos ficar em casa, assistindo à TV, esperando que dos céus caiam nossas reivindicações. É preciso lutar e discutir o papel da universidade na sociedade, discutir os desvios que começam a preocupar a todos, é preciso repensar o descomprometimento com a mudança realidade que muitos intelectuais adotam como regra de trabalho, é preciso reformar as estruturas de dois séculos passados que ainda sustentam a universidade no século XXI. É, enfim, fazer um séria auto-crítica, em muitos casos, uma mea-culpa. Também precisamos nos desenganar de que uma greve nas universidades públicas irá tirar o sono do governador... por que não questionar a Fuvest, essa gansa dos ovos de ouro, que carrega atrás de si uma indústria de cursinhos? Por que não perguntar: se a USP não pode ter novos professores, se não pode ter melhoria nas calamitosas estruturas de alguns prédios, seria seguro abrir vagas a mais estudantes neste ano? Não seria interessante uma pequena pausa, para preservar a qualidade?

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Olha ele aí de novo...

Já há alguns dias que começou discretamenta a campanha a favor de José Dirceu "Anistia Já!", lançada, ao que parece, pela Juventude Petista. O objetivo central da campanha é reunir assinaturas e enviar ao Congresso Nacional uma proposta de emenda constitucional que anistiaria José Dirceu, devolvendo seu direitos políticos.

Enfatizando: ao que parece, esse movimento não tem nada a ver com nenhum figurão petista, nem com Lula, nem com a ala do Campo Majoritário. Também não tem nada a ver com pretensões eleitorais para 2008 ou 2010. Ao que parece.

Dirceu começou tímido, mal-disfarsando a surpresa da homenagem (?) dos jovens petistas ao líder partidário. Começou assim, mas já começa a dar entrevistas aqui e acolá, conversando com fulando, rindo pra sicrano, batendo nas costinhas de beltrano. Ao que parece.

O argumento - frágil por sinal - de Dirceu é o de que ele foi condenado sem provas pela Câmara dos Deputados e que no Supremo Tribunal Federal ele poderia provar cabalmente o sem-propósito de sua cassação. O argumento é frágil, e velho, pois Dirceu sabe (como parlamentar experiente que foi) que o processo e o julgamento da Câmara são político, não jurídico. Ele não é o primeiro, nem será o último que terá sido condenado por um grave erro político, não necessariamente legal. Talvez o caso mais conhecido seja o de Collor, que foi cassado no plano político e absolvido no STF e de lá saiu com a ficha mais limpa que a minha, talvez.

Lula disse e redisse e desdisse que pretende fazer um governo de coalizão, que reúna os setores mais diversos da sociedade, as diversas correntes políticas, partidos, etc. Uma consertación brasileira - coisa que Fernando Henrique também buscou fazer mas não conseguiu. Lula fala muito, mas é cada vez mais infantil querer dar crédito às suas promessas. Como um governo que pretende unir o país em um grande esforço pela justiça social e o desenvolvimento econômico e democrático do país pôde permitir a desarticulação vista na eleição para presidente da Câmara, pode demorar tanto para anunciar um ministério enxuto, eficiente? Poderá dar apoio ao pedido de anistia a um homem envolvido com escândalos - os mais nefastos recentemente vistos - de compra de votos, abuso de poder político, sem falar da incompetência gerencial com que tocou a Casa Civil - controlando tudo com mão de ferro, sem flexibilidade, sem agilidade, sem inteligência?

Ao que parece, é a Juventude Petista que quer a "Anistia Já!", não é ninguém da Câmara, ninguém como Palocci ou Genuíno ou Chinaglia, ninguém que poderia usar seu poder institucional para atender a interesses partidários, ao que parece, não.

Carnaval para muitos cordeiros e poucos lobos

Por Bob Fernandes

O Carnaval de Salvador acabou, decretou nosso colunista Antonio Risério num desabafo pré-momesco. (Leia aqui).

Difícil entender como um Carnaval que arrasta multidões nas ruas por quase uma semana possa ter "acabado", mas quem freqüenta o Carnaval baiano sabe ao que Risério se refere.

Alegria engarrafada, industrializada, vendida para uns tantos se comparado ao todo, e em nome - e conta bancária - de muito poucos.

Alegria embalada em abadás e camarotes só para quem tem e pode, alegria que é, mantidas as óbvias dessemelhanças, um simulacro de outro carnavalzão paquidérmico, o do sambódromo carioca.

Um, como o outro, cada vez mais montado segundo a lógica repetitiva, pobre, chula e chulé de emissoras de televisão.

Não se desconhece o trabalho insano, o amor e dedicação idem, o esplendor e a beleza de escolas no sambódromo, mas o que se discute aqui é uma outra coisa: em nome de quem, e para quem, os megacarnavais? A propósito, leia aqui os colunistas Marcio Alemão e Ronaldo Correia de Brito.

O Carnaval do Rio de Janeiro, neste 2007, entrará para a história como aquele em que a Mangueira barrou Beth Carvalho e seus 36 anos de escola.

Carnaval, o de 2007, em que a verde e rosa negou duas fantasias para a família de Nelson, 82 anos de história, Sargento, enquanto o tráfico distribuía 20 fantasias - R$ 600 cada - para uma de suas alas, como informa Xico Vargas em sua Ponte Aérea RJ.

Beth Carvalho e Nelson Sargento postos para fora e, dentro, todos aqueles traseiros de ocasião; não se discutirá a excepcional, ou não, qualidade das ancas, as deste ou de muitos verões, nem os mililitros de silicone, mas como não pasmar ante a quantidade de árvores abatidas para que se possa ler e saber se a Grazi, a Juliana, a Preta, a Galistéia, ou qualquer uma do próximo verão tem... samba no pé?

O Rio de Janeiro largou na frente da Bahia na luta pelo desempacotamento da alegria no Carnaval. São centenas e centenas de blocos, uns filhotes dos outros e nascidos, quase todos, do encontro da escassez com o excesso.

Excesso de candidatos à alegria que tornam escassos o espaço e o único combustível não químico desta alegria, a música. A saída seria aumentar a quantidade de músicos, a potência do som, mas aí chega-se a um... trio elétrico.

Um trio elétrico, se uma prefeitura ou um estado não o alimentam diretamente torna-se uma máquina de engolir dinheiro, donde os blocos, os abadás de setecentos, oitocentos, mil, mil e quinhentos reais.

Trios, abadás e, como ninguém é de ferro, passe-se uma corda ao redor do bloco e enfie-se centenas de cordeiros, homens e mulheres - R$ 17 por dia, mais um lanche - para garantir a integridade; a da corda.

Quem não pode pagar? Que se esprema na calçada.

Um Carnaval para muitos, muitos cordeiros. E pouquíssimos lobos.

O Rio resiste. O Boi Tatá, que um dia saiu com uns 300, na manhã do domingo recebeu 6 mil candidatos à alegria, 35 graus à sombra. Filhote já com mais de um ano, a dissidência Boi Tolo escafedeu-se da Praça Quinze arrastando seus ainda 300.

Em Salvador, quem sabe uma esperança? Carlinhos Brown anunciou e lançou o Pipocão, um arrastão sem cordas. Por ora, apenas esperança. A Timbalada, do mesmo Brown, um dia foi um filhote sem corda, como também o foi o bloco Os Mascarados, de Margareth Menezes.
Ambos, um ou dois carnavais depois, devidamente empacotados.

Nas cinzas a Bahia chora e discute, como não poderia deixar de ser, seus mortos e feridos. Seis assassinatos, não necessariamente ligados ao circuito do Carnaval, 53 arrastões não momescos, 1.650 ocorrências...

- Não é muito, a se contar que temos mais de um milhão de pessoas nas ruas - diz um assessor carnavalesco.

A frase contém uma mentira que, pela repetição, tornou-se verdade. E que não descobre a ferida.

A mentira está no milhão. Uma cidade com 3 milhões de almas, incluídas as dos arredores, não tem, e não teria como ter, um milhão de humanos nas ruas; se a metade dessa hipotética multidão se decidisse por um xixi mais ou menos à mesma hora, a Bahia viveria um tsunami nas suas avenidas e ladeiras.

Tal milhão, chutado um dia nos dias das grandes e recentes mentiras oficiais, colou, ficou. Ponto.
A ferida? Estava na capa do jornal A Tarde nos últimos dias de dezembro passado:

- Salvador, a segunda cidade mais desigual do mundo.

Números oficiais, selo da ONU. À frente de Salvador no ranking mundial de desigualdade apenas algum ponto na Namíbia. Donde, com a camarotagem invadindo espaços públicos, a abadagem usurpando as avenidas e segregando ainda mais num Carnaval de cordeiros, seis assassinatos soam como se não fosse "muito".

PS: Em tempo. Isso pouco pode significar para quem, durante, bebeu um ou mais litros de algo com álcool, inalou Universitário, Loló, cal e assemelhados, para quem, em resumo, tenha ingerido qualquer aditivo em estado sólido, líquido ou gasoso. Pode não importar também para quem encontrou o grande amor, senão da vida pelo menos daquela tarde, noite, ou hora.

Quem vos escreve adianta: se deu bem, está no Carnaval desde as primeiras lembranças da infância, e adora estar.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Lukács


György Lucáks (1885-1971) foi filósofo e político Húngaro de origem judaica, ingressou no Partido Comunista Húngaro em 1918. Foi Comissário do Povo durante o efêmero governo de Bela Kun, e tornou-se, no pós 2ª guerra, uma espécie de porta voz do Marxismo intelectual, sobretudo após a discussão pública que o opôs a K. Jaspers e outros filósofos ocidentais nos Encontros Internacionais de Genebra, de 1946. Ministro da Educação do Governo de Imre Nagy, foi deportado para a Romenia após a invasão da Hungria por tropas soviéticas em 1956.

Aqui no blog está disponibilizado o download do texto "As bases ontológicas do pensamento e da atividade humana".

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

PAC na mídia - Avaliações levianas e tendenciosas

Certa vez, em entrevista ao Roda Viva, na TV Cultura, um dos entrevistados estava difamando várias personalidades do mundo político, acadêmico e artístico quando foi interpelado pelo mediador, que lhe perguntou:

– Tirando o senhor e Deus, quem mais presta no mundo?

A resposta:

– Eu não sei!

A mesma atitude vem sendo tomada pelos colunistas de economia há muito tempo e, em especial, no lançamento do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento).

Muito mais do que ceticismo, a grande maioria dos colunistas dos principais jornais do país que tratou do tema fez avaliações sinistras do plano e, em cerca de sete parágrafos, resolvia que o problema econômico do crescimento do país era este ou aquele ponto "crucial" que não havia sido elaborado de forma correta pelo programa ou havia mesmo sido ignorado. Cabe notar, porém, que a maioria das colunas, embora tratasse do PAC, não continha um ponto crítico comum. Quase como quando se lê horóscopo em diferentes jornais.

Pouca credibilidade

Quanto à cobertura dos veículos impressos, não divergiu muito da obscuridade. Folha de S.Paulo e Estado de S.Paulo procuraram dar uma ampla atenção ao tema e seus cadernos econômicos foram quase que exclusivos sobre o PAC. A Folha pecou por não se aprofundar muito nas medidas e a manchete principal do caderno "Dinheiro" não poderia ter sido mais óbvia, tratando-se de um Programa de Crescimento Nacional: "Plano depende de empresários e oposição" (terça-feira, 23/01). Em seu editorial, o jornal chamou as medidas de "genéricas" e adotou uma posição totalmente avessa às propostas do plano, porém sem esboçar argumentos que pudessem sustentar seu ponto de vista de forma plena e sensata. Clóvis Rossi, colunista do jornal, em artigo intitulado "PAC, falar e fazer", foi quem, dentre todos os comentaristas, elaborou a melhor análise sobre o programa, fugindo das previsões futuristas dos astrólogos e dos comentários de balcão de boteco.

O Estado de S. Paulo, embora tenha feito uma cobertura mais ampla e se aprofundado mais sobre as medidas, teve poucas matérias "isentas" de sua posição editorial e poucas que realmente tivessem o mérito da credibilidade. O jornal chegou mesmo a estampar em sua capa uma manchete ridícula tratando-se de um programa de crescimento elaborado pelo presidente da República: "Dinheiro público sustenta plano" (terça-feira, 23/01). Mas, então, com que dinheiro o PAC deveria ser elaborado? Apenas com o lucro das empresas privadas? Dentro do jornal encontramos também uma manchete decididamente tendenciosa: "PAC pode dar a Dilma passaporte para 2010" (terça, 23/01). Quais os argumentos para o Estado fazer esta afirmação? Quais os critérios adotados pelo jornal ao publicar, sob a configuração de notícia, uma matéria opinativa?

Ritos cabalísticos, previsões obscuras

Marcelo Beraba, ombudsman da Folha, criticou certa vez os veículos de comunicação por não contarem com jornalistas especializados em suas redações. Segundo ele, este fato acaba gerando matérias insossas, sem informações e superficiais e, assim, as reportagens ficam apenas ocupando espaço editorial e em nada esclarecem o leitor (muitas vezes leigo) sobre o fato ocorrido. Esta crítica de Beraba fica mais nítida no caso atual, quando os jornais impressos, em especial o Estado de S.Paulo, foram ainda mais tendenciosos do que se esperava.

Não cabem aqui análises sobre as medidas do PAC, nem sobre seus efeitos na economia, visto que as mesmas ainda estão no papel e seu caráter não é definitivo. Mas, enquanto só o deus de cada um prestar no mundo e todo o pensamento for voltado para ele, é melhor cada um pegar suas crenças e ir para um retiro espiritual. Afinal, a sociedade depende, dentre outras coisas, de um pensamento sensato no coletivo, e não de ritos cabalísticos de previsões obscuras e sem fundamento.

Cássio Caetano Gusson Schiavi

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

CuruPAC!

Foi anunciado o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento. Eu fico pensando se este não é mais um dos verbetes do vasto dicionário de promessas vazias do presidente Lula. Lembremos que Lula já prometeu o espetáculo do crescimento, o fome zero, já disse que a saúde beira a perfeição entre outras milhares de falas sem sentido de um presidente que fala discursa demais e governa de menos.

Diferentemente de alguns outros políticos cujas promessas - ainda que pareçam muitos sérias - não me dão a menor inclinação para a fé, Lula, apesar de ser um contumaz falastrão, sempre me inspirou um ar de confiança muito leve, quase inócuo, mas sempre é alguma coisa. Resta torcer para que desta vez Lula esteja realmente disposto a trabalhar seriamente para promover o crescimento do país.

Planos econômicos nunca foram o nosso forte, convenhamos. Podem ter tido algum êxito a princípio, mas a longo prazo nos deram uma ressaca pesada em forma de endividamento público, concentração de renda e corrupção. Esse roteiro desastroso que os plano econômicos parecem tomar no Brasil se explica em parte pela falta de comprometimento político, falta de planejamento, falta de fiscalização e, especialmente, gerenciamento ineficiente da execução do plano.

Que não faltem essas lições de história a equipe do presidente Lula.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

EU constitution 'is still alive'



Ministers from 17 European Union countries are due to meet in the Spanish capital, Madrid, hoping to keep alive the idea of an EU constitution.


The 17 countries have approved the constitution, and want it to come into force with as few changes as possible.

The proposals were rejected by voters in France and the Netherlands in 2005.

Germany, which is currently leading EU efforts to revive the constitution, regards the meeting as unhelpful, and is only sending an observer.

Germany did back the constitution in a parliamentary vote, but its leaders are concerned that the meeting could alienate France and the Netherlands, as well as the seven other countries that have put ratification on hold.

The countries sending ministers to the meeting are: Austria, Belgium, Bulgaria, Cyprus, Estonia, Finland, Greece, Hungary, Italy, Latvia, Lithuania, Luxembourg, Malta, Romania, Slovakia, Slovenia and Spain.

Observers from Ireland and Portugal, which have not yet ratified the constitution, are also expected to attend.

'One voice'

The Europe Ministers of Spain and Luxembourg, who organised the conference, say the countries that have approved the constitution - with a combined population of more than 270 million - want their voice to be heard.

In a joint article published in a number of European newspapers, Spain's Alberto Navarro and Luxembourg's Nicolas Schmit say that in today's globalised world "a united and capable Europe is more necessary than ever".

"We cannot resign ourselves to Europe being no more than a huge market or a free trade area," they write.

"We want a political Europe that can speak with one voice, and with one minister of foreign affairs and a common foreign service."

They also back the draft constitution's shift towards more qualified majority voting, and the inclusion in the text of the Charter of Fundamental Rights.

In an interview with Reuters news agency, Mr Schmit said the meeting would send a message that the constitution was not dead.

"It is a positive action aimed to remind people that Europe needs profound reform and that at this stage the best reforms on which agreement has been reached are those found in the constitutional treaty," he said.

'Crazy timing'

German Chancellor Angela Merkel has warned that it would be a "historic mistake" not to complete institutional reforms of the kind envisaged in the constitution by 2009.

But even supporters of the constitution have questioned the usefulness of the Madrid meeting.

The leader of British Liberal Democrats in the European Parliament, Andrew Duff, a prominent supporter of the constitution, said there was serious risk of dividing the union.

"The only way this crisis can be solved is if all member states arrive at a common position informed by a debate involving all of them," he said.

Timothy Kirkhope, leader of UK Conservative MEPs, said holding the meeting now was crazy timing.

"It raises false expectations for those who want a constitution and unnecessary fears for those that share the conservative view that Europe doesn't need a constitution," he said.


Fonte: BBC News

Calvin & Haroldo

Tradução

Calvin: Você viu o filme na TV ontem, à noite?
Haroldo: Não.

Calvin: Você viu o jogo, então?
Haroldo: Não.

Calvin: Você viu alguma coisa na TV ontem a noite?
Haroldo: Não.

Calvin: Então o que você viu?

O que é o Fórum Econômico de Davos

Todos os anos, no final de janeiro, os principais líderes do setor privado mundial viajam para a cidade de Davos, nos alpes suíços, para participar do Fórum Econômico Mundial.

O que é o Fórum Econômico Mundial?

O Fórum Econômico de Davos foi criado para “contribuir na solução dos problemas da nossa época”. O principal evento do Fórum é a reunião anual, que ocorre entre os dias 24 e 28 de janeiro.

Durante cinco dias de palestras, os presidentes das principais empresas do mundo recebem políticos, artistas, acadêmicos, líderes religiosos, sindicalistas e ativistas de diversas organizações não-governamentais.

O evento serve basicamente para que os líderes mundiais ampliem suas redes de contatos. Além da reunião principal na Suíça, há encontros ao longo do ano em Catar, Chile, Rússia e China.

Sobre o que eles conversam?

Este ano, o grande tema da reunião é “Mudanças na Equação do Poder”.

Os 2,4 mil participantes, de 90 países, vão debater mudanças climáticas, terrorismo, tensões no Oriente Médio e na Península da Coréia, globalização, desemprego, crescimento econômico dos gigantes asiáticos, inovações tecnológicas e a nova revolução da internet, entre outros temas.

Com tantos poderosos reunidos, eles não estão, na prática, tentando dividir o mundo entre si?

Davos atrai muitas teorias da conspiração, mas o evento não tem passado de um grande encontro de conversas informais.

Há encontros a portas fechadas e acordos importantes, como a reabertura do processo de paz entre Israel e a Autoridade Palestina, negociado em Davos por Shimon Peres e Yasser Arafat em 1994.

Neste ano, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, vai se encontrar com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, para falar sobre o Oriente Médio.

Além disso, 30 ministros de Indústria e Comércio (entre eles o brasileiro Luiz Fernando Furlan) vão discutir um novo calendário para retomada da Rodada de Doha, as negociações comerciais globais.

Quem são as pessoas famosas que vão a Davos?

Empresários como Bill Gates e Michael Dell, além de diretores de gigantes do mundo corporativo, como Google, British Petroleum, Coca-Cola, Intel e Volkswagen, estarão presente em Davos.

Nos últimos anos, os organizadores têm reduzido os convites feitos a chefes de Estado, para manter o caráter econômico e privado do evento.

Neste ano, 24 chefes de Estado participarão do Fórum, entre eles o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e o presidente africano, Thabo Mbeki.

O que mais chama atenção neste ano é a ausência de artistas famosos, como Angelina Jolie, Brad Pitt e Richard Gere, que estiveram presentes em 2006.

Críticos do evento dizem que ele só serve para aumentar a globalização. Isso é verdade?

Este é um dos pontos mais polêmicos do Fórum. O evento tem sido alvo de manifestações antiglobalização. Os organizadores, no entanto, dizem que o Fórum serve apenas para “melhorar o estado do mundo”.

Davos também tem um rival: o Fórum Social Mundial, que neste ano está sendo realizado em Nairóbi, no Quênia.

Fonte: BBC Brasil

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Menino dos Pontos de Ibope de Ouro

“Sou um homem. Nada que é humano me é indiferente” (Terêncio, autor latino)

Como tantos, também vi "Falcão - Meninos do Tráfico". Como tantos, senti desconforto diante daquela realidade mostrada, escancarada (embora sabida) ao Brasil em horário dito nobre. Mas não quero falar propriamente disso, seria demasiado óbvio da minha parte dizer que isso é um absurdo, uma coisa tenebrosa, etc, etc. É claro que é, mas quero comentar outro aspecto do que aconteceu.

Muito louvável a iniciativa (?) da Rede Globo de exibir em um programa de grande audiência (Fantástico) esse importante documentário. Muito louvável e natural e saudável o debate que se seguiu ao documentário durante a semana. Mas no domingo seguinte ao da apresentação... ah, Deus! A Globo perdeu todos os pontos que poderia ter ganhado comigo - não que isso lhe dê cuidados, evidentemente.

Descontente em ganhar prestígio e audiência, a Globo quis ganhar mais dinheiro encima desses meninos tão sofridos por meio da prolongação comercializada do tema. A velha abordagem demagoga de "salvamos um desgraçado" voltou à tona com o Domingão do Faustão mostrando o único sobrevivente dentre os meninos que participaram do documentário. Esse tipo de quadro não criação nem exclusividade da Globo: Gugu com o seu "De volta a minha terra"; Netinho com "Um dia de princesa", enfim, mais ou menos famosos, mais ou menos apelativos, há para todos os estômagos.

Que cenas espetacularmente hipócritas foram mostradas domingo passado. Sei que teve muita gente de bom coração que se emocionou ao ver todos aqueles relatos, todas aquelas lágrimas, toda aquela carga de emoção dos gestos, dos "eu me importo". Pode parecer infâmia criticar isso, mas quero demonstrar que não é infame e, sim, necessário repudiar esse tipo de quadro e esse tipo de programa.

De onde nascem os meninos do tráfico? Da pobreza? Da exclusão social? Do desemprego? Da insegurança? Sim, claro que sim, mas, em uma análise mais acurada, há muito mais do que isso. Os meninos do tráfico nascem dos lucros bilionários que as instituições financeiras obtêm ano após ano, os meninos do tráfico vêm dos bilhões de dólares pagos anualmente pelo governo brasileiro e vêm do pouco dinheiro que sobra para a cultura, a educação, o esporte e o lazer. Não só eles, mas também é desse ventre podre que vêm a prostituta, o trombadinha, o analfabeto, o velho doente na fila do hospital. Esse submundo, essa subgente nasce de cada "não vou responder" de Duda Mendonça, de cada rebolada de Angela Guadagnin, de cada habeas-corpus do Supremo, do joguete escuso feito por essas super-hiper-ultra-mega-transnacionais. E é justamente neste ponto que reside toda a hipocrisia desses quadros "salvamos um desgraçado". A hipocrisia reside aí porque a cada um que eles "salvam", um mil eles criam. É como um madeireiro fazer auto-promoção por reflorestar 1 km² da Floresta Amazônica, isso é hipócrita porque ele devasta outros tantos milhões.

Que circo patético ver aquele desembargador destilar bobagens de cidadão preocupado quando a sua classe faz greve (greve do Judiciário!!!) para manter o "direito adquirido" ao nepotismo. Que circo de horrores ver artistas, celebridades se indignarem com tanto fervor com a pobreza e a miséria e o des-destino daquele garoto enquanto sofrem do empanzinamento do banquete passado. Circo, por sinal, é o que o menino disse sempre ter sonhado ver. Verá. O todo-bondoso Beto Carreiro vai dar um bilhete para um mundo de fantasia - enquanto faz um comercial de seu estabelecimento, já que ninguém é de ferro.

Nessa relação dialética que nós brasileiros temos com a Rede Globo, a qual devemos grandes feitos artísticos e jornalísticos e episódios de vergonhosa demagogia e parcialismo e manipulação despótica da opinião pública nacional, assistimos a mais uma lição de brasilidade: o pacotão de bondades dado pela elite econômica e política a um pobre menino do tráfico (que continuará menino do tráfico) para, assim, aliviar o peso de sua consciência, o peso da consciência de saber que o subproduto da sua ganância pelo lucro e pelo poder são gerações (lotes?) de meninos do tráfico.

Os chips, as potrancas e a Globo

"Diga-me a sua opinião e direi quem pensa por você" (Werner Mitsch)

Toda quarta-feira tem discussão. Toda santa quart-feira, quando temos aula de Auditoria de Sistemas, o assunto toma um ou outro atalho e acaba em debates acalorados. Não são brigas, são debates acalorados. A discussão preferida é sobre os limites do avanço da tecnologia.

Eu me lembro de uma certa vez em que alguém falou sobre a implantação de chips em seres humanos. Bom, geralmente, essas discussões em sala começam sempre assim: "Eu li, não me lembro onde...", "Eu vi, acho que foi no Fantástico", "Eu recebi um e-mail sobre...", por fim, muitas vezes as histórias, os exemplos são mirabolantes e não têm fonte conhecida, portanto sempre há que se suspeitar. Mas, eu juro que alguém falou sobre isso, não me lembro quem nem quando. Mas falaram sobre a implantação de chips em seres humanos.

Os chips conteriam várias informações sobre o indivíduo, substituiria todos aqueles documentos (RG, CPF, CNH, Cartões de Crédito, de Débito, etc.), o chip permitiria que fôssemos ao supermercado, pegássemos nossas coisas e saíssemos sem ter que passar pelo caixa: ao passar pela porta do supermercado, um sistema de etiquetas inteligentes contabilizaria o total da compra e debitaria automaticamente na nossa conta através do danadinho do chip. "Eu li, não me lembro onde...", mas parece que isso já existe.

Eu não quero ser um retrógrado. Nunca quis. Mas nós vivemos numa época e numa sociedade que banalizou de tal forma o ser humano que está sendo tirado de nós o direito de resistir. Hoje, não somos mais seres humanos, somos consumidores. Que fique claro que não sou socialista, mas o capitalismo não me convenceu.

Vejam o Brasil. As meninas dançam funk. Ora, que mal há nisso? Não, aparentemente não há nenhum mal nisso. "É só um tipo de música. Você pode gostar ou não, mas é só uma música. Ah, por favor, deixa de ser chato, de ser velho. Até a Raíssa dança funk. Isso é preconceito com o morro". As pessoas parecem que perderam o senso crítico. As garotas rebolam pra lá e pra cá feito umas lagartixas seminuas e nem ouvem que estão sendo chamadas de "cachorra", de "galinha", de "pulguenta", "potranca"... é de colocar a Arca de Noé no chinelo. Elas rebolam pela apologia ao machismo. Mas eu nem vou entrar nesse tema de novo, porque se não vão me chamar de feminista.

O que mais me entristece é ver milhões e milhões de pessoas sem opinião própria, por mais absurda ou retrógrada que sejam. Não, as pessoas repetem o que o Faustão fala, o que o Clodovil pensa, o que a mocinha da novela fez, o que a Tati Quebra Barraco canta, enfim, geralmente o que a Globo predicou.

Nada contra a Globo. Eu assisto à Globo. Mas as pessoas precisam ter discernimento. Ver e criticar. Temos que deixar de ser só receptores e passar a ser produtores de conhecimento.

Mas o que as potrancas e a Globo têm a ver com os chips? Ora, com esse tipo de gente, é muito fácil vender chips para humanos. Não é maravilhoso não ter que carregar aquele monte de documentos? Não é paradisíaco entrar no Extra e sair sem ter que perder tempo no caixa? É, mas tudo tem que ser dissecado pelo pensamento crítico, tudo.

Imaginem vocês, que belo rebanho de ovelhinhas indo pra lá e pra cá e sendo rastreadas... aliás, rastreadas por quem? Sim, porque se vai haver um chip tão engenhoso, tão poderoso, alguém tem que controlar. Alguém vai ME controlar. Quem? Não sei. Os satélites são quase todos norte-americanos. Parece um pensamento paranóico, conspiratório, mas a idéia de colocarem um sino de vaca eletrônico e intracutâneo em mim não me parece menos paranóica.

São várias as questões, clonagem, morte induzida, aborto, união civil gay, enfim, temas sérios, dos quais não podemos escapar e que não podemos avaliar pela visão fácil, fast-food e comercial da mídia e nem pelos olhos míopes, para não dizer cegos, e excessivamente estáticos da religião. Temos que pensar essas coisas de maneira séria, profunda e demorada, talvez não demorada, mas sem pressa e com objetividade.

E deve ser garantido às pessoas o direito de resistir, de dizer "não, senhor vendedor de facilidades tecnológicas, não quero isso", "mas vai melhorar a sua vida, é hiper moderno", "sim, mas eu pensei bem e não quero". Podemos errar ou acertar. Só não podemos tomar decisões se baseando apenas pela opinião da Globo ou de uma igreja. Criticar é preciso, ruminar em frente a televisão não é preciso.

O "Não" e os Brucutus

"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida." (Clarice Lispector)

O debate sobre o Referendo pela proibição da venda de armas de fogo e munição no Brasil realmente tomou conta do país, ao menos é o que se conclui da tsunami de charges, piadas, estatísticas, artigos e apresentações de slides que têm alagado as caixas de entrada de todos.

Eu voto sim. Não movido pelos apelos da Fernanda Montenegro ou do Chico Buarque; sem dúvida que são pessoas inteligentes e que o simples fato de conhecer seu posicionamento tem algum peso sobre a decisão das pessoas. Não guiado por um sentimento mezzo hippie, mezzo mussarela. Voto sim porque eu acredito que a proibição é o primeiro passo para se chegar a um Brasil com mais paz. Voto sim porque não gosto da estupidez das armas, mais: não gosto da estupidez das pessoas que usam armas.

Todos sabemos que o Brasil é um país machista, esse Referendo mostra que além de machista o Brasil é um país de pessoas truculentas. Mas, eu não digo isso como quem critica - digo como quem entende. Entendo que em uma época de extremos a massa tende a tomar atitudes extremas. O resultado disso é quase sempre lágrimas, perdas e arrependimento. Foi isso que aconteceu na Alemanha de Hitler - um povo massacrado e humilhado pela 1ª Guerra que entregou seu destino incondicionalmente nas mãos de um sádico. Foi assim que se comportaram os camponeses na Revolução Francesa - destruídos pela fome, sufocados pela exploração da nobreza e do alto clero, frustrados nos seus sonhos de liberdade, igualdade e fraternidade, foram buscar esse sonho às custas de sangue, assassinatos e execuções.

O Brasil vive um momento desses. Hoje, nos estúdios da Rádio USP, um estudante de jornalismo assassinou seu colega com uma faca de cozinha. Há dois anos, uma jovem de classe média alta assassinou os pais, ajudada pelo namorado e um amigo dele. Há alguns meses, uma família foi brutalmente assassinada por conhecidos que queriam roubar o dinheiro de dois jovens haviam ganhado com seus trabalhos no Japão. A lista é interminável. A brutalidade, a irracionalidade, a falta de motivos, a frieza, o animalesco dos crimes.

Nesse contexto, surgem opiniões-brucutus como "eu acho que tem pegar esses capangas e meter bala", "esses Direitos Humanos só aparecem pra proteger bandido", "tem que botar pena de morte pra esses canalhas", "eu acho que tem tratar esses caras a pão e água". Fica difícil se posicionar contra argumentos-brucutus como esses. Chamo de argumentos-brucutus não para ridicularizar, mas porque eles não se baseiam na razão. Eles apelam para o sentimento humano da indignação, da vingança que atinge todos nós ao saber de crimes hediondos. Opiniões-brucutus nos induzem a fazer justiça com as próprias mãos, a praticar o olho por olho.

Mesmo assim, devemos manter a esperança de construir um país melhor nos limites da lei, da democracia, do respeito aos Direitos Humanos. Afinal, não é com gritos que se consegue silêncio, não é com lágrimas que se fica feliz, não é com sombras que se ilumina e não é com truculência que se consegue paz.

Os argumentos-brucutus contrários a isso seriam "você diz isso porque nunca teve um 38 na nuca", "essa baboseira toda é conversa de gente sonhadora, o sujeito só se endireita na linha dura", etc. Outros destilam estatísticas tiradas da cartola, citam fatos históricos totalmente desconexos com o nosso momento. A ideologia-brucutu é algo fácil de se assimilar, fácil de tomar partido. Mas é uma bomba-relógio para as pessoas.

A proibição vai diminuir o número de armas e isso tem um efeito logicamente provável: menos armas, menos tiros, menos atingidos, menos perdas. Ainda que a diminuição seja ínfima, mais vale salvar uma vida que perder um "direito". Intrigante esse direito: portar armas. Eu não sou um jurista, mas arrisco dizer que a nossa Constituição não prevê esse direito, diferentemente do direito incondicional à vida.

Vale lembrar as palavras de Gandhi: "você tem que ser a mudança que você quer ver no mundo", ou seja, quem quer paz tem que ser pacífico.

A farsa da democracia

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda." (Cecília Meireles)


Por esses dias, houve na comunidade “Democracia”, do Orkut, uma discussão sobre “a farsa da democracia”. A pessoa que iniciou o debate afirmava que a democracia é, no fundo, uma grande farsa porque não é possível garantir de fato a todos a participação nas decisões, no poder e que a democracia desperta o individualismo, a corrupção, o liberalismo econômico, etc. Essa pessoa propunha um governo forte, nacionalista, que assegure ao Estado e à sociedade a ordem e o progresso. Nas minhas participações nessa discussão, eu me opus frontalmente a essas idéias. Mas, até mesmo por ser um democrata convicto, acho que todos têm o direito de pensar o que querem – por mais perigosas que sejam as conseqüências desses pensamentos.

Eu acho que a relação entre democracia e o homem é muito curiosa. Curiosa porque o homem não é democrático por natureza, ou seja, nós somos autoritários, egoístas, traiçoeiros, mesquinhos, etc. Rousseau que me perdoe, mas o homem jamais foi – nem será – puro por natureza. Mas, acontece que é preciso viver em sociedade, ninguém consegue viver sozinho, como uma ilha, por isso a democracia grega foi justamente uma maneira encontrada para viver em sociedade com um mínimo de harmonia e estabilidade social e política. Ninguém pode afirmar que a democracia é uma grande maravilha, um modelo de eficiência sem precedentes ou aplicável a todas as situações, em todos os lugares ou a todas as pessoas.

É engraçado perceber como é um exercício difícil entender as opiniões e comportamentos divergentes dos nossos. Eu, por exemplo, e isso não é uma brincadeira, não consigo entender o que leva uma pessoa com um mínimo de inteligência a acreditar no PT ou no Lula. Para mim é tão claro que Lula é um sujeito incompetente! Para mim é tão óbvio que Lula é um falastrão, um mentiroso, enfim, isso é tão claro que eu não entendo como alguns amigos meus tão inteligentes e superiores a mim, estão cegos a isso. A democracia vai contra a natureza do homem porque é preciso um esforço sobrenatural para respeitar o outro, entender que vê as coisas do seu modo. É inevitável não se desesperar e gritar: “MAS COMO!? VOCÊ NÃO PERCEBE!?”

Mas, viver de acordo com esses nossos “instintos primitivos”, como queira Bob Jeff, seria o caos total, uma guerra civil eterna, uma sucessão infindável de golpes e repressão.

A democracia é somente, tão somente, um sistema que busca assegurar a todos a maior necessidade humana – a liberdade – por meio de um acordo no qual se pressupõe o respeito ao contraditório, ainda que isso seja quase inconcebível algumas vezes. A democracia é sempre o caminho do meio e por isso algumas medidas importantes, como a reforma política, não saem ou saem mutiladas e quase inócuas. Mas, mesmo assim, lentamente, de grão em grão é quase se conseguirá atingir um objetivo maior com mais vidas poupadas.

Essa inegável ineficiência da democracia é que atrai muitos a buscar um caminho mais rápido, mais enérgico, mais prático – custe o que custar. A democracia é ineficiente, mas é eficaz. A longo prazo, só um sistema que funcione sob um acordo de respeito mútuo das individualidades pode atingir os objetivos da coletividade.

Mas isso é só a minha opinião, torta e vulgar, e como um democrata, eu acredito que é possível que outros discordem e estejam corretos.

Sobre superioridade e mulheres

"Women love us for our defects. If we have enough of them, they will forgive us everything, even our intellects." (Oscar Wilde, The picture of Dorian Gray)

Depois de férias longas em que muitas coisas boas aconteceram para mim, eu me lembrei que tinha um blog e que faltava atualizá-lo.

Muitos dos meus amigos pensam que eu estou deleitado, extasiado com a implosão do PT, mas não. Estou muito triste com tudo isso, sinceramente triste – mas com aquele ar arrogante de quem diz: eu não avisei?

Mas não quero ainda falar disso. Eu quero falar de mulheres. Há uns dois meses atrás, estávamos discutindo na Fatec sobre casamentos, namoros, casos, etc. Foi lá que eu defendi uma idéia que eu tenho – que, honestamente, não tem nada de genial, mas tem um quê de provocante e original.

A idéia é a de que um casamento ou um namoro ou qualquer tipo de relacionamento amoroso heterossexual só pode durar com felicidade e harmonia se uma regra for respeitada: a mulher tem que ser superior ao homem. A idéia é simples, é quase que uma regra matemática, é quase logicamente provável. Não há possibilidade de um relacionamento ser feliz e duradouro se a mulher não for superior ao seu homem.

Mas superior em que sentido? Evidentemente, eu não me refiro à superioridade financeira ou superioridade em termos de beleza, etc. A superioridade em questão é a espiritual-intelectual. Esse tipo de superioridade é aquela que difere as pessoas entre inteligentes ou não, boas ou más, atualizadas ou ultrapassadas, abertas a novas situações e idéias ou fechadas a conservadorismos, a superioridade que faz uns vencerem a seleção natural e a inferioridade que faz outros se extinguirem – me perdoem os biólogos.

Cada um de nós tem um nível de desenvolvimento espiritual-intelectual e um homem só pode ser feliz com uma mulher que lhe é superior e uma mulher só pode ser feliz com um homem que lhe é inferior. Eu lanço o desafio. Mulheres, analisem seus namorados, seus esposos, etc. Homens, analisem suas esposas, suas namoradas. Isto é, se vocês se consideram felizes...

Bom, e aí, a vida e a história se encarregam sozinhas de comprovar essa idéia. Eu, por exemplo, li um artigo sobre Mileva Maric Einstein, brilhante matemática e primeira esposa de Albert Einstein. Há quem defenda que a base matemática da Teoria da Relatividade foi criada por Mileva, que aparece como co-autora da Teoria na primeira vez em que esta foi publicada. A suspeita ganha mais força, segundo o artigo de Fernanda Campanelli Massarotto, quando se lê a correspondência entre Einstein e Mileva e pelo fato de o acordo de divórcio ter estabelecido que, se algum dia, a teoria de Einstein ganhasse o prêmio Nobel, Mileva receberia todo o valor do prêmio. O que aconteceu e fez dela uma mulher rica.

Aqui pode aparecer uma contradição: se Mileva era superior a Einstein por que eles se separaram? Veja bem, eu não digo que todo relacionamento que respeite as “regras naturais de superioridade” (frase engraçada!) será feliz, mas o que eu digo é que esse relacionamento só poderá ser feliz e duradouro se, e somente se, respeitar as tais regras.

Atenção, eu não estou dizendo que todas as mulheres são superiores a todos os homens. Por exemplo, há mulheres que são infinitamente inferiores nesse sentido do que alguns homens. O que eu digo, é que as pessoas se relacionam e, naquele relacionamento, se a mulher for superior intelectualmente e espiritualmente ao homem, eles têm chances de ser muitos felizes, do contrário, não.

O mais engraçado é perceber como essa procura do homem por um ser superior e essa procura da mulher por um ser inferior se dá de maneira tão instintiva e inconsciente.

Eu não quero parecer falsamente feminista. Não sou. Às vezes, sou até um pouco machista. Mas eu não posso cegar meus olhos. Não vou dar uma de Lula que não vê nada, não sabe de nada.

Fruto do saco cheio

“Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena.
Mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.”
(Ferreira Gullar)


Não, eu não quero ouvir nem mais uma palavra sobre mensalão! Confesso honestamente que não tenho mais estômago pra agüentar tudo isso. Também não vou ficar aqui falando sobre a economia, a violência, a educação, enfim, todos esses assuntos que são muito importantes, mas sobre os quais eu não tenho mais nada de novo pra falar. Não somos somente 170 milhões de técnicos de futebol, somos 170 mihões de presidentes, de geneticistas, de teólogos, de instrutores de trânsito, etc. Todos sabem o que se precisa fazer, o problema é que nada é feito porque somos revolucionários somente enquanto assistimos ao Jornal Nacional. Ninguém é revolucionário segunda-feira, às 7h da manhã e é por isso que as coisas não mudam.

Eu quero falar do que muda sempre, todo dia, todo segundo e sobre a qual, certamente, cada um de nós é o único entendedor (de fato): a nossa vida. Não, não é nenhuma viagem filosófica... pelo amor de Deus, não! Como eu já disse, estou saturado, obeso de coisas sérias.

Há quase um mês atrás, eu completei meus 20 anos. Mais que isso, nesse ano, a maioria dos meus amigos completa 20 anos, mais ainda, todo mudo completa algum ano nesse ano. Mas só agora, aos 20 anos, é que a minha vida e a de muita gente que eu conheço vai mudando demais deixando o sujeito perdido, perplexo, como quem leva um soco e nem sabe de onde veio.

Tenho amigos que já morreram antes dos 20 anos - Paloma, de pneumonia; Ayrton, à bala - e tenho outros que vão tomando atitudes tão adultas que muitos aos 40 não sabem se vão tomar, gente quase que se casando, buscando vida nova, em outros lugares, com novas pessoas, alguns conhecidos até filhos já tiveram.

Eu fico aqui olhando, olhando maravilhado pra tudo isso. Já dei minhas cabeçadas, mas nenhuma delas deixou alguma cicatriz. Já disse minhas idiotices, vivo dizendo idiotices, e já calei palavras interessantes o que criou silêncios idotas também. Tanta prudência me trouxe coisas maravilhosas e me tirou outras que talvez fossem maravilhosas, outras ainda que certamente seriam.

Mas chega um momento em que é preciso criar uma cicatriz, chega um momento em que a rugas começam a se formar (produtos e cirurgias escondem, mas elas estão lá), em que a gente começa a ser criticado, a ser insultado, a ser maltratado, a ser amado e nessa hora, a partir desse momento, tem que suportar a dor e o prazer sozinho. E é nessa hora que a vida fica mais interessante.

Fica interessante, mas também dá medo. Só os imbecis e os desinformados não têm medo do próprio futuro. Medo de falhar, de perder a casa, de não conseguir honrar os empréstimos, medo de errar irremediavelmente, medo de acabar como aquilo em que está se transformando.

Apesar do medo e da ansiedade, eu dou risada e vivo. Viver é sempre o melhor remédio. Afinal, todo mundo nasceu pelado e sem dentes – morrer de farrapos, no fim das contas, não deixa de ser um tipo de lucro.

Todo homem tem seu preço

"Que sucede então no seio desses conselhos onde reinam a inveja, a vaidade e o interessa? Intenta, alguém, apoiar uma opinião razoável na história dos tempos passados, ou nos costumes dos outros países? Os outros se mostram surpresos e transtornados; e com o amor-próprio alarmado como se fossem perder a reputação de sábios e passar por imbecis. Eles quebram a cabeça até encontrar um argumento contraditório, e se a memória e a lógica lhes mingua, entrincheiram-se neste lugar comum: ‘nosso pais assim pensaram e assim fizeram; ah! Queira Deus que igualemos a sabedoria de nossos pais’! Depois se assentam pavoneando-se, como se acabassem de pronunciar um oráculo" (Thomas Morus, A Utopia - Século XVI)

Escrevo este texto ouvindo a sessão da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar em que depõe o deputado federal Roberto Jefferson.

Toda criança no Brasil aprende a falar papai, mamãe. Toda criança escolhe um time de futebol quando tem uns sete ou oito anos mais ou menos. Enfim, as crianças todas no Brasil aprendem muitas coisas e as mais importantes delas são que o “você é o futuro do Brasil” e “Brasil é o país do futuro”.

O que se esquecem de nos dizer é que o brasileiro por natureza é corrupto, na verdade, o ser humano por natureza é corrupto. Está, me perdoem os biólogos e afins, na composição genética do ser humano. Mas o que me interessa aqui são os brasileiros – já que eu não me interesso tanto assim pelo destino de outros povos.

Todo – veja bem, todo – homem tem seu preço. E eu não estou falando somente em dinheiro, eu não seria tão pouco imaginativo. Em nós, brasileiros, isso é muito mais natural, muito mais gingado. O que é o jeitinho brasileiro se não o embrião corruptor que existe dentro de cada um de nós? O estudante não consegue tirar a nota para ser aprovado, mas conversa com o professor e o professor dá um jeitinho; o empresário não consegue pagar seus impostos, mas se dá um jeitinho; a mussarela da pizzaria venceu, mas só faz dois dias, ninguém vai morrer, pra tudo se dá um jeitinho.

Tudo bem que desse jeitinho para o mensalão existe muita sofisticação maléfica arquitetada por cabeças inteligentes e experientes. Mas, ninguém pode negar que tudo começa daí. Essas pessoas que hoje desviam milhões, num passado distante, roubavam figurinhas de álbuns do campeonato brasileiro ou coisas assim. Eu também não estou dizendo “atire a primeira pedra...”, não, nada disso.

Meu medo, meu grande medo é que mais uma vez essas investigações acabem em nada. Com um ou dois bodes expiados e que não iniciem, por fim, um movimento encabeçado pelo Congresso e pelo povo que dê um exemplo a todo Brasil, que dê um basta em todas as falcatruas – as minúsculas ou as maiúsculas – que impedem o país finalmente engrene na democracia. Desenvolvimento econômico, taxa de juros, empregos, exportações são coisas importantíssimas, mas não é isto que faz uma grande pátria. O que faz uma grande pátria é um povo que acredite, no seu mais íntimo pensamento, na democracia, que respeite as leis (é preciso que haja leis mais inteligentes e mais justiça, é óbvio) e o que faz um grande país é, por fim, a cultura teatro, música, literatura, escultura, etc, mas isso é outra canção.

Eu não escondo de ninguém que sou tucano, não sou filiado, mas sou tucano de coração. E eu não quero ver impeachment, renúncias, desastres nacionais, desmoralização do governo, etc. Eu só quero (quem não quer?) que esse réquiem nacional termine ao seu tempo e que puna exemplarmente quem deva ser punido e que a massa tenha a sensação de que o país está realmente mudando para uma realidade mais ética e que seja ela mesma, a massa, mais ética e que se inicie assim um círculo virtuoso de crença na democracia representativa, na justiça e na ética. Só assim seremos o futuro do Brasil e só assim seremos o país do futuro.

Até que a cláusula rescisória os separe

“Marcela amou-me durante quinze dias e onze contos de réis; nada menos” (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Eu pretendia falar sobre a cúpula América Latina – Países Árabes, realizada em Brasília, semana passada. Mas além de esse assunto ser muito chato, surgiu um tema novo, muito mais interessante. Foi a separação de Ronaldo, o fenômeno – será? – e Daniela Cicarelli.

Eu não sou fofoqueiro, não é por isso que esse assunto é mais importante que a cúpula América Latina – Países Árabes. É porque esse affair exemplifica muito bem a mediocridade em que todos nós estamos afundados nestes últimos anos.

Os brasileiros usaram e adotaram a cultura fast food, em que tudo se compra, tudo se vende, tudo é relativo, tudo depende da situação, tudo pode ser empurrado porque tudo pode ser comprado, tudo apodrece rápido para dar lugar à nova porcaria do ano, do mês, da hora, do minuto.

Um exemplo dessa cultura fast food foi esse casamento realizado com um luxo afrontador, brega, que contou com a participação da imprensa abutre a espera de puxões de cabelo, gafes, mulheres expulsas, vestidos de grife, um padre que serve muito mais à mídia que a Deus (que parece ter nascido grudado com aquela imagem de Maria no braço).

Essa união – que mais mereceu o nome de sociedade comercial – foi celebrada com um pouco de amor, um bocado de tesão, e muita esperteza; das duas partes. Afinal, Ronaldo teve o bom prazer que seu dinheiro pôde pagar e Daniela – pobrezinha – vai sofrer com seus milhões de reais.

Eu não sou frio, não sou calculista: ela (dizem) perdeu um filho, mas eu também não sou ginecologista. Eu só me pergunto até quando nós vamos comer isso? Comer Big Brother, comer Sandy e Júnior, comer potrancas – cuidado com a interpretação!

Essas coisas que empurram goela abaixo do povo mediocrizam o país. Nos anos anteriores também se vivia com dificuldade, na pobreza, mas havia estilo. Com Drummond, Elis, João Cabral, Raquel de Queirós, Tom Jobim, Chico Buarque – sem saudosismo, porque eu não vivi esse tempo, mas é muito triste viver como se vive aqui e agora: ouvindo Latino, lendo Caras, assistindo novela, buscando fofoca, pagando para ver casamentos de celebridades, torcendo pelos seus escândalos, vivendo um vazio desesperante, produzindo arte que se expõe hoje e amanhã se esquece, sem nada de definitivo, sem nada para a posteridade, sem nada que ensine ou provoque quem vier.

Isso é muito mais sério que parece. Sem arte, sem limites, sem mínimas noções de algo absoluto, de definitivo, as coisas se liberam e se encaminham para um lodo de mesmice em que nós perdemos a criatividade. E um ser humano que não sabe criar – seja amor, sejam filhos, sejam peças de teatro – não é humano. É um animal somente. Um animal que obedece a instintos, sem criticar, sem inovar, sem mudar, sem nada de belo porque se possa viver.