segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

CuruPAC!

Foi anunciado o PAC - Programa de Aceleração do Crescimento. Eu fico pensando se este não é mais um dos verbetes do vasto dicionário de promessas vazias do presidente Lula. Lembremos que Lula já prometeu o espetáculo do crescimento, o fome zero, já disse que a saúde beira a perfeição entre outras milhares de falas sem sentido de um presidente que fala discursa demais e governa de menos.

Diferentemente de alguns outros políticos cujas promessas - ainda que pareçam muitos sérias - não me dão a menor inclinação para a fé, Lula, apesar de ser um contumaz falastrão, sempre me inspirou um ar de confiança muito leve, quase inócuo, mas sempre é alguma coisa. Resta torcer para que desta vez Lula esteja realmente disposto a trabalhar seriamente para promover o crescimento do país.

Planos econômicos nunca foram o nosso forte, convenhamos. Podem ter tido algum êxito a princípio, mas a longo prazo nos deram uma ressaca pesada em forma de endividamento público, concentração de renda e corrupção. Esse roteiro desastroso que os plano econômicos parecem tomar no Brasil se explica em parte pela falta de comprometimento político, falta de planejamento, falta de fiscalização e, especialmente, gerenciamento ineficiente da execução do plano.

Que não faltem essas lições de história a equipe do presidente Lula.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

EU constitution 'is still alive'



Ministers from 17 European Union countries are due to meet in the Spanish capital, Madrid, hoping to keep alive the idea of an EU constitution.


The 17 countries have approved the constitution, and want it to come into force with as few changes as possible.

The proposals were rejected by voters in France and the Netherlands in 2005.

Germany, which is currently leading EU efforts to revive the constitution, regards the meeting as unhelpful, and is only sending an observer.

Germany did back the constitution in a parliamentary vote, but its leaders are concerned that the meeting could alienate France and the Netherlands, as well as the seven other countries that have put ratification on hold.

The countries sending ministers to the meeting are: Austria, Belgium, Bulgaria, Cyprus, Estonia, Finland, Greece, Hungary, Italy, Latvia, Lithuania, Luxembourg, Malta, Romania, Slovakia, Slovenia and Spain.

Observers from Ireland and Portugal, which have not yet ratified the constitution, are also expected to attend.

'One voice'

The Europe Ministers of Spain and Luxembourg, who organised the conference, say the countries that have approved the constitution - with a combined population of more than 270 million - want their voice to be heard.

In a joint article published in a number of European newspapers, Spain's Alberto Navarro and Luxembourg's Nicolas Schmit say that in today's globalised world "a united and capable Europe is more necessary than ever".

"We cannot resign ourselves to Europe being no more than a huge market or a free trade area," they write.

"We want a political Europe that can speak with one voice, and with one minister of foreign affairs and a common foreign service."

They also back the draft constitution's shift towards more qualified majority voting, and the inclusion in the text of the Charter of Fundamental Rights.

In an interview with Reuters news agency, Mr Schmit said the meeting would send a message that the constitution was not dead.

"It is a positive action aimed to remind people that Europe needs profound reform and that at this stage the best reforms on which agreement has been reached are those found in the constitutional treaty," he said.

'Crazy timing'

German Chancellor Angela Merkel has warned that it would be a "historic mistake" not to complete institutional reforms of the kind envisaged in the constitution by 2009.

But even supporters of the constitution have questioned the usefulness of the Madrid meeting.

The leader of British Liberal Democrats in the European Parliament, Andrew Duff, a prominent supporter of the constitution, said there was serious risk of dividing the union.

"The only way this crisis can be solved is if all member states arrive at a common position informed by a debate involving all of them," he said.

Timothy Kirkhope, leader of UK Conservative MEPs, said holding the meeting now was crazy timing.

"It raises false expectations for those who want a constitution and unnecessary fears for those that share the conservative view that Europe doesn't need a constitution," he said.


Fonte: BBC News

Calvin & Haroldo

Tradução

Calvin: Você viu o filme na TV ontem, à noite?
Haroldo: Não.

Calvin: Você viu o jogo, então?
Haroldo: Não.

Calvin: Você viu alguma coisa na TV ontem a noite?
Haroldo: Não.

Calvin: Então o que você viu?

O que é o Fórum Econômico de Davos

Todos os anos, no final de janeiro, os principais líderes do setor privado mundial viajam para a cidade de Davos, nos alpes suíços, para participar do Fórum Econômico Mundial.

O que é o Fórum Econômico Mundial?

O Fórum Econômico de Davos foi criado para “contribuir na solução dos problemas da nossa época”. O principal evento do Fórum é a reunião anual, que ocorre entre os dias 24 e 28 de janeiro.

Durante cinco dias de palestras, os presidentes das principais empresas do mundo recebem políticos, artistas, acadêmicos, líderes religiosos, sindicalistas e ativistas de diversas organizações não-governamentais.

O evento serve basicamente para que os líderes mundiais ampliem suas redes de contatos. Além da reunião principal na Suíça, há encontros ao longo do ano em Catar, Chile, Rússia e China.

Sobre o que eles conversam?

Este ano, o grande tema da reunião é “Mudanças na Equação do Poder”.

Os 2,4 mil participantes, de 90 países, vão debater mudanças climáticas, terrorismo, tensões no Oriente Médio e na Península da Coréia, globalização, desemprego, crescimento econômico dos gigantes asiáticos, inovações tecnológicas e a nova revolução da internet, entre outros temas.

Com tantos poderosos reunidos, eles não estão, na prática, tentando dividir o mundo entre si?

Davos atrai muitas teorias da conspiração, mas o evento não tem passado de um grande encontro de conversas informais.

Há encontros a portas fechadas e acordos importantes, como a reabertura do processo de paz entre Israel e a Autoridade Palestina, negociado em Davos por Shimon Peres e Yasser Arafat em 1994.

Neste ano, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, vai se encontrar com o presidente palestino, Mahmoud Abbas, para falar sobre o Oriente Médio.

Além disso, 30 ministros de Indústria e Comércio (entre eles o brasileiro Luiz Fernando Furlan) vão discutir um novo calendário para retomada da Rodada de Doha, as negociações comerciais globais.

Quem são as pessoas famosas que vão a Davos?

Empresários como Bill Gates e Michael Dell, além de diretores de gigantes do mundo corporativo, como Google, British Petroleum, Coca-Cola, Intel e Volkswagen, estarão presente em Davos.

Nos últimos anos, os organizadores têm reduzido os convites feitos a chefes de Estado, para manter o caráter econômico e privado do evento.

Neste ano, 24 chefes de Estado participarão do Fórum, entre eles o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e o presidente africano, Thabo Mbeki.

O que mais chama atenção neste ano é a ausência de artistas famosos, como Angelina Jolie, Brad Pitt e Richard Gere, que estiveram presentes em 2006.

Críticos do evento dizem que ele só serve para aumentar a globalização. Isso é verdade?

Este é um dos pontos mais polêmicos do Fórum. O evento tem sido alvo de manifestações antiglobalização. Os organizadores, no entanto, dizem que o Fórum serve apenas para “melhorar o estado do mundo”.

Davos também tem um rival: o Fórum Social Mundial, que neste ano está sendo realizado em Nairóbi, no Quênia.

Fonte: BBC Brasil

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Menino dos Pontos de Ibope de Ouro

“Sou um homem. Nada que é humano me é indiferente” (Terêncio, autor latino)

Como tantos, também vi "Falcão - Meninos do Tráfico". Como tantos, senti desconforto diante daquela realidade mostrada, escancarada (embora sabida) ao Brasil em horário dito nobre. Mas não quero falar propriamente disso, seria demasiado óbvio da minha parte dizer que isso é um absurdo, uma coisa tenebrosa, etc, etc. É claro que é, mas quero comentar outro aspecto do que aconteceu.

Muito louvável a iniciativa (?) da Rede Globo de exibir em um programa de grande audiência (Fantástico) esse importante documentário. Muito louvável e natural e saudável o debate que se seguiu ao documentário durante a semana. Mas no domingo seguinte ao da apresentação... ah, Deus! A Globo perdeu todos os pontos que poderia ter ganhado comigo - não que isso lhe dê cuidados, evidentemente.

Descontente em ganhar prestígio e audiência, a Globo quis ganhar mais dinheiro encima desses meninos tão sofridos por meio da prolongação comercializada do tema. A velha abordagem demagoga de "salvamos um desgraçado" voltou à tona com o Domingão do Faustão mostrando o único sobrevivente dentre os meninos que participaram do documentário. Esse tipo de quadro não criação nem exclusividade da Globo: Gugu com o seu "De volta a minha terra"; Netinho com "Um dia de princesa", enfim, mais ou menos famosos, mais ou menos apelativos, há para todos os estômagos.

Que cenas espetacularmente hipócritas foram mostradas domingo passado. Sei que teve muita gente de bom coração que se emocionou ao ver todos aqueles relatos, todas aquelas lágrimas, toda aquela carga de emoção dos gestos, dos "eu me importo". Pode parecer infâmia criticar isso, mas quero demonstrar que não é infame e, sim, necessário repudiar esse tipo de quadro e esse tipo de programa.

De onde nascem os meninos do tráfico? Da pobreza? Da exclusão social? Do desemprego? Da insegurança? Sim, claro que sim, mas, em uma análise mais acurada, há muito mais do que isso. Os meninos do tráfico nascem dos lucros bilionários que as instituições financeiras obtêm ano após ano, os meninos do tráfico vêm dos bilhões de dólares pagos anualmente pelo governo brasileiro e vêm do pouco dinheiro que sobra para a cultura, a educação, o esporte e o lazer. Não só eles, mas também é desse ventre podre que vêm a prostituta, o trombadinha, o analfabeto, o velho doente na fila do hospital. Esse submundo, essa subgente nasce de cada "não vou responder" de Duda Mendonça, de cada rebolada de Angela Guadagnin, de cada habeas-corpus do Supremo, do joguete escuso feito por essas super-hiper-ultra-mega-transnacionais. E é justamente neste ponto que reside toda a hipocrisia desses quadros "salvamos um desgraçado". A hipocrisia reside aí porque a cada um que eles "salvam", um mil eles criam. É como um madeireiro fazer auto-promoção por reflorestar 1 km² da Floresta Amazônica, isso é hipócrita porque ele devasta outros tantos milhões.

Que circo patético ver aquele desembargador destilar bobagens de cidadão preocupado quando a sua classe faz greve (greve do Judiciário!!!) para manter o "direito adquirido" ao nepotismo. Que circo de horrores ver artistas, celebridades se indignarem com tanto fervor com a pobreza e a miséria e o des-destino daquele garoto enquanto sofrem do empanzinamento do banquete passado. Circo, por sinal, é o que o menino disse sempre ter sonhado ver. Verá. O todo-bondoso Beto Carreiro vai dar um bilhete para um mundo de fantasia - enquanto faz um comercial de seu estabelecimento, já que ninguém é de ferro.

Nessa relação dialética que nós brasileiros temos com a Rede Globo, a qual devemos grandes feitos artísticos e jornalísticos e episódios de vergonhosa demagogia e parcialismo e manipulação despótica da opinião pública nacional, assistimos a mais uma lição de brasilidade: o pacotão de bondades dado pela elite econômica e política a um pobre menino do tráfico (que continuará menino do tráfico) para, assim, aliviar o peso de sua consciência, o peso da consciência de saber que o subproduto da sua ganância pelo lucro e pelo poder são gerações (lotes?) de meninos do tráfico.

Os chips, as potrancas e a Globo

"Diga-me a sua opinião e direi quem pensa por você" (Werner Mitsch)

Toda quarta-feira tem discussão. Toda santa quart-feira, quando temos aula de Auditoria de Sistemas, o assunto toma um ou outro atalho e acaba em debates acalorados. Não são brigas, são debates acalorados. A discussão preferida é sobre os limites do avanço da tecnologia.

Eu me lembro de uma certa vez em que alguém falou sobre a implantação de chips em seres humanos. Bom, geralmente, essas discussões em sala começam sempre assim: "Eu li, não me lembro onde...", "Eu vi, acho que foi no Fantástico", "Eu recebi um e-mail sobre...", por fim, muitas vezes as histórias, os exemplos são mirabolantes e não têm fonte conhecida, portanto sempre há que se suspeitar. Mas, eu juro que alguém falou sobre isso, não me lembro quem nem quando. Mas falaram sobre a implantação de chips em seres humanos.

Os chips conteriam várias informações sobre o indivíduo, substituiria todos aqueles documentos (RG, CPF, CNH, Cartões de Crédito, de Débito, etc.), o chip permitiria que fôssemos ao supermercado, pegássemos nossas coisas e saíssemos sem ter que passar pelo caixa: ao passar pela porta do supermercado, um sistema de etiquetas inteligentes contabilizaria o total da compra e debitaria automaticamente na nossa conta através do danadinho do chip. "Eu li, não me lembro onde...", mas parece que isso já existe.

Eu não quero ser um retrógrado. Nunca quis. Mas nós vivemos numa época e numa sociedade que banalizou de tal forma o ser humano que está sendo tirado de nós o direito de resistir. Hoje, não somos mais seres humanos, somos consumidores. Que fique claro que não sou socialista, mas o capitalismo não me convenceu.

Vejam o Brasil. As meninas dançam funk. Ora, que mal há nisso? Não, aparentemente não há nenhum mal nisso. "É só um tipo de música. Você pode gostar ou não, mas é só uma música. Ah, por favor, deixa de ser chato, de ser velho. Até a Raíssa dança funk. Isso é preconceito com o morro". As pessoas parecem que perderam o senso crítico. As garotas rebolam pra lá e pra cá feito umas lagartixas seminuas e nem ouvem que estão sendo chamadas de "cachorra", de "galinha", de "pulguenta", "potranca"... é de colocar a Arca de Noé no chinelo. Elas rebolam pela apologia ao machismo. Mas eu nem vou entrar nesse tema de novo, porque se não vão me chamar de feminista.

O que mais me entristece é ver milhões e milhões de pessoas sem opinião própria, por mais absurda ou retrógrada que sejam. Não, as pessoas repetem o que o Faustão fala, o que o Clodovil pensa, o que a mocinha da novela fez, o que a Tati Quebra Barraco canta, enfim, geralmente o que a Globo predicou.

Nada contra a Globo. Eu assisto à Globo. Mas as pessoas precisam ter discernimento. Ver e criticar. Temos que deixar de ser só receptores e passar a ser produtores de conhecimento.

Mas o que as potrancas e a Globo têm a ver com os chips? Ora, com esse tipo de gente, é muito fácil vender chips para humanos. Não é maravilhoso não ter que carregar aquele monte de documentos? Não é paradisíaco entrar no Extra e sair sem ter que perder tempo no caixa? É, mas tudo tem que ser dissecado pelo pensamento crítico, tudo.

Imaginem vocês, que belo rebanho de ovelhinhas indo pra lá e pra cá e sendo rastreadas... aliás, rastreadas por quem? Sim, porque se vai haver um chip tão engenhoso, tão poderoso, alguém tem que controlar. Alguém vai ME controlar. Quem? Não sei. Os satélites são quase todos norte-americanos. Parece um pensamento paranóico, conspiratório, mas a idéia de colocarem um sino de vaca eletrônico e intracutâneo em mim não me parece menos paranóica.

São várias as questões, clonagem, morte induzida, aborto, união civil gay, enfim, temas sérios, dos quais não podemos escapar e que não podemos avaliar pela visão fácil, fast-food e comercial da mídia e nem pelos olhos míopes, para não dizer cegos, e excessivamente estáticos da religião. Temos que pensar essas coisas de maneira séria, profunda e demorada, talvez não demorada, mas sem pressa e com objetividade.

E deve ser garantido às pessoas o direito de resistir, de dizer "não, senhor vendedor de facilidades tecnológicas, não quero isso", "mas vai melhorar a sua vida, é hiper moderno", "sim, mas eu pensei bem e não quero". Podemos errar ou acertar. Só não podemos tomar decisões se baseando apenas pela opinião da Globo ou de uma igreja. Criticar é preciso, ruminar em frente a televisão não é preciso.

O "Não" e os Brucutus

"Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida." (Clarice Lispector)

O debate sobre o Referendo pela proibição da venda de armas de fogo e munição no Brasil realmente tomou conta do país, ao menos é o que se conclui da tsunami de charges, piadas, estatísticas, artigos e apresentações de slides que têm alagado as caixas de entrada de todos.

Eu voto sim. Não movido pelos apelos da Fernanda Montenegro ou do Chico Buarque; sem dúvida que são pessoas inteligentes e que o simples fato de conhecer seu posicionamento tem algum peso sobre a decisão das pessoas. Não guiado por um sentimento mezzo hippie, mezzo mussarela. Voto sim porque eu acredito que a proibição é o primeiro passo para se chegar a um Brasil com mais paz. Voto sim porque não gosto da estupidez das armas, mais: não gosto da estupidez das pessoas que usam armas.

Todos sabemos que o Brasil é um país machista, esse Referendo mostra que além de machista o Brasil é um país de pessoas truculentas. Mas, eu não digo isso como quem critica - digo como quem entende. Entendo que em uma época de extremos a massa tende a tomar atitudes extremas. O resultado disso é quase sempre lágrimas, perdas e arrependimento. Foi isso que aconteceu na Alemanha de Hitler - um povo massacrado e humilhado pela 1ª Guerra que entregou seu destino incondicionalmente nas mãos de um sádico. Foi assim que se comportaram os camponeses na Revolução Francesa - destruídos pela fome, sufocados pela exploração da nobreza e do alto clero, frustrados nos seus sonhos de liberdade, igualdade e fraternidade, foram buscar esse sonho às custas de sangue, assassinatos e execuções.

O Brasil vive um momento desses. Hoje, nos estúdios da Rádio USP, um estudante de jornalismo assassinou seu colega com uma faca de cozinha. Há dois anos, uma jovem de classe média alta assassinou os pais, ajudada pelo namorado e um amigo dele. Há alguns meses, uma família foi brutalmente assassinada por conhecidos que queriam roubar o dinheiro de dois jovens haviam ganhado com seus trabalhos no Japão. A lista é interminável. A brutalidade, a irracionalidade, a falta de motivos, a frieza, o animalesco dos crimes.

Nesse contexto, surgem opiniões-brucutus como "eu acho que tem pegar esses capangas e meter bala", "esses Direitos Humanos só aparecem pra proteger bandido", "tem que botar pena de morte pra esses canalhas", "eu acho que tem tratar esses caras a pão e água". Fica difícil se posicionar contra argumentos-brucutus como esses. Chamo de argumentos-brucutus não para ridicularizar, mas porque eles não se baseiam na razão. Eles apelam para o sentimento humano da indignação, da vingança que atinge todos nós ao saber de crimes hediondos. Opiniões-brucutus nos induzem a fazer justiça com as próprias mãos, a praticar o olho por olho.

Mesmo assim, devemos manter a esperança de construir um país melhor nos limites da lei, da democracia, do respeito aos Direitos Humanos. Afinal, não é com gritos que se consegue silêncio, não é com lágrimas que se fica feliz, não é com sombras que se ilumina e não é com truculência que se consegue paz.

Os argumentos-brucutus contrários a isso seriam "você diz isso porque nunca teve um 38 na nuca", "essa baboseira toda é conversa de gente sonhadora, o sujeito só se endireita na linha dura", etc. Outros destilam estatísticas tiradas da cartola, citam fatos históricos totalmente desconexos com o nosso momento. A ideologia-brucutu é algo fácil de se assimilar, fácil de tomar partido. Mas é uma bomba-relógio para as pessoas.

A proibição vai diminuir o número de armas e isso tem um efeito logicamente provável: menos armas, menos tiros, menos atingidos, menos perdas. Ainda que a diminuição seja ínfima, mais vale salvar uma vida que perder um "direito". Intrigante esse direito: portar armas. Eu não sou um jurista, mas arrisco dizer que a nossa Constituição não prevê esse direito, diferentemente do direito incondicional à vida.

Vale lembrar as palavras de Gandhi: "você tem que ser a mudança que você quer ver no mundo", ou seja, quem quer paz tem que ser pacífico.

A farsa da democracia

"Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda." (Cecília Meireles)


Por esses dias, houve na comunidade “Democracia”, do Orkut, uma discussão sobre “a farsa da democracia”. A pessoa que iniciou o debate afirmava que a democracia é, no fundo, uma grande farsa porque não é possível garantir de fato a todos a participação nas decisões, no poder e que a democracia desperta o individualismo, a corrupção, o liberalismo econômico, etc. Essa pessoa propunha um governo forte, nacionalista, que assegure ao Estado e à sociedade a ordem e o progresso. Nas minhas participações nessa discussão, eu me opus frontalmente a essas idéias. Mas, até mesmo por ser um democrata convicto, acho que todos têm o direito de pensar o que querem – por mais perigosas que sejam as conseqüências desses pensamentos.

Eu acho que a relação entre democracia e o homem é muito curiosa. Curiosa porque o homem não é democrático por natureza, ou seja, nós somos autoritários, egoístas, traiçoeiros, mesquinhos, etc. Rousseau que me perdoe, mas o homem jamais foi – nem será – puro por natureza. Mas, acontece que é preciso viver em sociedade, ninguém consegue viver sozinho, como uma ilha, por isso a democracia grega foi justamente uma maneira encontrada para viver em sociedade com um mínimo de harmonia e estabilidade social e política. Ninguém pode afirmar que a democracia é uma grande maravilha, um modelo de eficiência sem precedentes ou aplicável a todas as situações, em todos os lugares ou a todas as pessoas.

É engraçado perceber como é um exercício difícil entender as opiniões e comportamentos divergentes dos nossos. Eu, por exemplo, e isso não é uma brincadeira, não consigo entender o que leva uma pessoa com um mínimo de inteligência a acreditar no PT ou no Lula. Para mim é tão claro que Lula é um sujeito incompetente! Para mim é tão óbvio que Lula é um falastrão, um mentiroso, enfim, isso é tão claro que eu não entendo como alguns amigos meus tão inteligentes e superiores a mim, estão cegos a isso. A democracia vai contra a natureza do homem porque é preciso um esforço sobrenatural para respeitar o outro, entender que vê as coisas do seu modo. É inevitável não se desesperar e gritar: “MAS COMO!? VOCÊ NÃO PERCEBE!?”

Mas, viver de acordo com esses nossos “instintos primitivos”, como queira Bob Jeff, seria o caos total, uma guerra civil eterna, uma sucessão infindável de golpes e repressão.

A democracia é somente, tão somente, um sistema que busca assegurar a todos a maior necessidade humana – a liberdade – por meio de um acordo no qual se pressupõe o respeito ao contraditório, ainda que isso seja quase inconcebível algumas vezes. A democracia é sempre o caminho do meio e por isso algumas medidas importantes, como a reforma política, não saem ou saem mutiladas e quase inócuas. Mas, mesmo assim, lentamente, de grão em grão é quase se conseguirá atingir um objetivo maior com mais vidas poupadas.

Essa inegável ineficiência da democracia é que atrai muitos a buscar um caminho mais rápido, mais enérgico, mais prático – custe o que custar. A democracia é ineficiente, mas é eficaz. A longo prazo, só um sistema que funcione sob um acordo de respeito mútuo das individualidades pode atingir os objetivos da coletividade.

Mas isso é só a minha opinião, torta e vulgar, e como um democrata, eu acredito que é possível que outros discordem e estejam corretos.

Sobre superioridade e mulheres

"Women love us for our defects. If we have enough of them, they will forgive us everything, even our intellects." (Oscar Wilde, The picture of Dorian Gray)

Depois de férias longas em que muitas coisas boas aconteceram para mim, eu me lembrei que tinha um blog e que faltava atualizá-lo.

Muitos dos meus amigos pensam que eu estou deleitado, extasiado com a implosão do PT, mas não. Estou muito triste com tudo isso, sinceramente triste – mas com aquele ar arrogante de quem diz: eu não avisei?

Mas não quero ainda falar disso. Eu quero falar de mulheres. Há uns dois meses atrás, estávamos discutindo na Fatec sobre casamentos, namoros, casos, etc. Foi lá que eu defendi uma idéia que eu tenho – que, honestamente, não tem nada de genial, mas tem um quê de provocante e original.

A idéia é a de que um casamento ou um namoro ou qualquer tipo de relacionamento amoroso heterossexual só pode durar com felicidade e harmonia se uma regra for respeitada: a mulher tem que ser superior ao homem. A idéia é simples, é quase que uma regra matemática, é quase logicamente provável. Não há possibilidade de um relacionamento ser feliz e duradouro se a mulher não for superior ao seu homem.

Mas superior em que sentido? Evidentemente, eu não me refiro à superioridade financeira ou superioridade em termos de beleza, etc. A superioridade em questão é a espiritual-intelectual. Esse tipo de superioridade é aquela que difere as pessoas entre inteligentes ou não, boas ou más, atualizadas ou ultrapassadas, abertas a novas situações e idéias ou fechadas a conservadorismos, a superioridade que faz uns vencerem a seleção natural e a inferioridade que faz outros se extinguirem – me perdoem os biólogos.

Cada um de nós tem um nível de desenvolvimento espiritual-intelectual e um homem só pode ser feliz com uma mulher que lhe é superior e uma mulher só pode ser feliz com um homem que lhe é inferior. Eu lanço o desafio. Mulheres, analisem seus namorados, seus esposos, etc. Homens, analisem suas esposas, suas namoradas. Isto é, se vocês se consideram felizes...

Bom, e aí, a vida e a história se encarregam sozinhas de comprovar essa idéia. Eu, por exemplo, li um artigo sobre Mileva Maric Einstein, brilhante matemática e primeira esposa de Albert Einstein. Há quem defenda que a base matemática da Teoria da Relatividade foi criada por Mileva, que aparece como co-autora da Teoria na primeira vez em que esta foi publicada. A suspeita ganha mais força, segundo o artigo de Fernanda Campanelli Massarotto, quando se lê a correspondência entre Einstein e Mileva e pelo fato de o acordo de divórcio ter estabelecido que, se algum dia, a teoria de Einstein ganhasse o prêmio Nobel, Mileva receberia todo o valor do prêmio. O que aconteceu e fez dela uma mulher rica.

Aqui pode aparecer uma contradição: se Mileva era superior a Einstein por que eles se separaram? Veja bem, eu não digo que todo relacionamento que respeite as “regras naturais de superioridade” (frase engraçada!) será feliz, mas o que eu digo é que esse relacionamento só poderá ser feliz e duradouro se, e somente se, respeitar as tais regras.

Atenção, eu não estou dizendo que todas as mulheres são superiores a todos os homens. Por exemplo, há mulheres que são infinitamente inferiores nesse sentido do que alguns homens. O que eu digo, é que as pessoas se relacionam e, naquele relacionamento, se a mulher for superior intelectualmente e espiritualmente ao homem, eles têm chances de ser muitos felizes, do contrário, não.

O mais engraçado é perceber como essa procura do homem por um ser superior e essa procura da mulher por um ser inferior se dá de maneira tão instintiva e inconsciente.

Eu não quero parecer falsamente feminista. Não sou. Às vezes, sou até um pouco machista. Mas eu não posso cegar meus olhos. Não vou dar uma de Lula que não vê nada, não sabe de nada.

Fruto do saco cheio

“Como dois e dois são quatro
sei que a vida vale a pena.
Mesmo que o pão seja caro
e a liberdade, pequena.”
(Ferreira Gullar)


Não, eu não quero ouvir nem mais uma palavra sobre mensalão! Confesso honestamente que não tenho mais estômago pra agüentar tudo isso. Também não vou ficar aqui falando sobre a economia, a violência, a educação, enfim, todos esses assuntos que são muito importantes, mas sobre os quais eu não tenho mais nada de novo pra falar. Não somos somente 170 milhões de técnicos de futebol, somos 170 mihões de presidentes, de geneticistas, de teólogos, de instrutores de trânsito, etc. Todos sabem o que se precisa fazer, o problema é que nada é feito porque somos revolucionários somente enquanto assistimos ao Jornal Nacional. Ninguém é revolucionário segunda-feira, às 7h da manhã e é por isso que as coisas não mudam.

Eu quero falar do que muda sempre, todo dia, todo segundo e sobre a qual, certamente, cada um de nós é o único entendedor (de fato): a nossa vida. Não, não é nenhuma viagem filosófica... pelo amor de Deus, não! Como eu já disse, estou saturado, obeso de coisas sérias.

Há quase um mês atrás, eu completei meus 20 anos. Mais que isso, nesse ano, a maioria dos meus amigos completa 20 anos, mais ainda, todo mudo completa algum ano nesse ano. Mas só agora, aos 20 anos, é que a minha vida e a de muita gente que eu conheço vai mudando demais deixando o sujeito perdido, perplexo, como quem leva um soco e nem sabe de onde veio.

Tenho amigos que já morreram antes dos 20 anos - Paloma, de pneumonia; Ayrton, à bala - e tenho outros que vão tomando atitudes tão adultas que muitos aos 40 não sabem se vão tomar, gente quase que se casando, buscando vida nova, em outros lugares, com novas pessoas, alguns conhecidos até filhos já tiveram.

Eu fico aqui olhando, olhando maravilhado pra tudo isso. Já dei minhas cabeçadas, mas nenhuma delas deixou alguma cicatriz. Já disse minhas idiotices, vivo dizendo idiotices, e já calei palavras interessantes o que criou silêncios idotas também. Tanta prudência me trouxe coisas maravilhosas e me tirou outras que talvez fossem maravilhosas, outras ainda que certamente seriam.

Mas chega um momento em que é preciso criar uma cicatriz, chega um momento em que a rugas começam a se formar (produtos e cirurgias escondem, mas elas estão lá), em que a gente começa a ser criticado, a ser insultado, a ser maltratado, a ser amado e nessa hora, a partir desse momento, tem que suportar a dor e o prazer sozinho. E é nessa hora que a vida fica mais interessante.

Fica interessante, mas também dá medo. Só os imbecis e os desinformados não têm medo do próprio futuro. Medo de falhar, de perder a casa, de não conseguir honrar os empréstimos, medo de errar irremediavelmente, medo de acabar como aquilo em que está se transformando.

Apesar do medo e da ansiedade, eu dou risada e vivo. Viver é sempre o melhor remédio. Afinal, todo mundo nasceu pelado e sem dentes – morrer de farrapos, no fim das contas, não deixa de ser um tipo de lucro.

Todo homem tem seu preço

"Que sucede então no seio desses conselhos onde reinam a inveja, a vaidade e o interessa? Intenta, alguém, apoiar uma opinião razoável na história dos tempos passados, ou nos costumes dos outros países? Os outros se mostram surpresos e transtornados; e com o amor-próprio alarmado como se fossem perder a reputação de sábios e passar por imbecis. Eles quebram a cabeça até encontrar um argumento contraditório, e se a memória e a lógica lhes mingua, entrincheiram-se neste lugar comum: ‘nosso pais assim pensaram e assim fizeram; ah! Queira Deus que igualemos a sabedoria de nossos pais’! Depois se assentam pavoneando-se, como se acabassem de pronunciar um oráculo" (Thomas Morus, A Utopia - Século XVI)

Escrevo este texto ouvindo a sessão da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar em que depõe o deputado federal Roberto Jefferson.

Toda criança no Brasil aprende a falar papai, mamãe. Toda criança escolhe um time de futebol quando tem uns sete ou oito anos mais ou menos. Enfim, as crianças todas no Brasil aprendem muitas coisas e as mais importantes delas são que o “você é o futuro do Brasil” e “Brasil é o país do futuro”.

O que se esquecem de nos dizer é que o brasileiro por natureza é corrupto, na verdade, o ser humano por natureza é corrupto. Está, me perdoem os biólogos e afins, na composição genética do ser humano. Mas o que me interessa aqui são os brasileiros – já que eu não me interesso tanto assim pelo destino de outros povos.

Todo – veja bem, todo – homem tem seu preço. E eu não estou falando somente em dinheiro, eu não seria tão pouco imaginativo. Em nós, brasileiros, isso é muito mais natural, muito mais gingado. O que é o jeitinho brasileiro se não o embrião corruptor que existe dentro de cada um de nós? O estudante não consegue tirar a nota para ser aprovado, mas conversa com o professor e o professor dá um jeitinho; o empresário não consegue pagar seus impostos, mas se dá um jeitinho; a mussarela da pizzaria venceu, mas só faz dois dias, ninguém vai morrer, pra tudo se dá um jeitinho.

Tudo bem que desse jeitinho para o mensalão existe muita sofisticação maléfica arquitetada por cabeças inteligentes e experientes. Mas, ninguém pode negar que tudo começa daí. Essas pessoas que hoje desviam milhões, num passado distante, roubavam figurinhas de álbuns do campeonato brasileiro ou coisas assim. Eu também não estou dizendo “atire a primeira pedra...”, não, nada disso.

Meu medo, meu grande medo é que mais uma vez essas investigações acabem em nada. Com um ou dois bodes expiados e que não iniciem, por fim, um movimento encabeçado pelo Congresso e pelo povo que dê um exemplo a todo Brasil, que dê um basta em todas as falcatruas – as minúsculas ou as maiúsculas – que impedem o país finalmente engrene na democracia. Desenvolvimento econômico, taxa de juros, empregos, exportações são coisas importantíssimas, mas não é isto que faz uma grande pátria. O que faz uma grande pátria é um povo que acredite, no seu mais íntimo pensamento, na democracia, que respeite as leis (é preciso que haja leis mais inteligentes e mais justiça, é óbvio) e o que faz um grande país é, por fim, a cultura teatro, música, literatura, escultura, etc, mas isso é outra canção.

Eu não escondo de ninguém que sou tucano, não sou filiado, mas sou tucano de coração. E eu não quero ver impeachment, renúncias, desastres nacionais, desmoralização do governo, etc. Eu só quero (quem não quer?) que esse réquiem nacional termine ao seu tempo e que puna exemplarmente quem deva ser punido e que a massa tenha a sensação de que o país está realmente mudando para uma realidade mais ética e que seja ela mesma, a massa, mais ética e que se inicie assim um círculo virtuoso de crença na democracia representativa, na justiça e na ética. Só assim seremos o futuro do Brasil e só assim seremos o país do futuro.

Até que a cláusula rescisória os separe

“Marcela amou-me durante quinze dias e onze contos de réis; nada menos” (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)

Eu pretendia falar sobre a cúpula América Latina – Países Árabes, realizada em Brasília, semana passada. Mas além de esse assunto ser muito chato, surgiu um tema novo, muito mais interessante. Foi a separação de Ronaldo, o fenômeno – será? – e Daniela Cicarelli.

Eu não sou fofoqueiro, não é por isso que esse assunto é mais importante que a cúpula América Latina – Países Árabes. É porque esse affair exemplifica muito bem a mediocridade em que todos nós estamos afundados nestes últimos anos.

Os brasileiros usaram e adotaram a cultura fast food, em que tudo se compra, tudo se vende, tudo é relativo, tudo depende da situação, tudo pode ser empurrado porque tudo pode ser comprado, tudo apodrece rápido para dar lugar à nova porcaria do ano, do mês, da hora, do minuto.

Um exemplo dessa cultura fast food foi esse casamento realizado com um luxo afrontador, brega, que contou com a participação da imprensa abutre a espera de puxões de cabelo, gafes, mulheres expulsas, vestidos de grife, um padre que serve muito mais à mídia que a Deus (que parece ter nascido grudado com aquela imagem de Maria no braço).

Essa união – que mais mereceu o nome de sociedade comercial – foi celebrada com um pouco de amor, um bocado de tesão, e muita esperteza; das duas partes. Afinal, Ronaldo teve o bom prazer que seu dinheiro pôde pagar e Daniela – pobrezinha – vai sofrer com seus milhões de reais.

Eu não sou frio, não sou calculista: ela (dizem) perdeu um filho, mas eu também não sou ginecologista. Eu só me pergunto até quando nós vamos comer isso? Comer Big Brother, comer Sandy e Júnior, comer potrancas – cuidado com a interpretação!

Essas coisas que empurram goela abaixo do povo mediocrizam o país. Nos anos anteriores também se vivia com dificuldade, na pobreza, mas havia estilo. Com Drummond, Elis, João Cabral, Raquel de Queirós, Tom Jobim, Chico Buarque – sem saudosismo, porque eu não vivi esse tempo, mas é muito triste viver como se vive aqui e agora: ouvindo Latino, lendo Caras, assistindo novela, buscando fofoca, pagando para ver casamentos de celebridades, torcendo pelos seus escândalos, vivendo um vazio desesperante, produzindo arte que se expõe hoje e amanhã se esquece, sem nada de definitivo, sem nada para a posteridade, sem nada que ensine ou provoque quem vier.

Isso é muito mais sério que parece. Sem arte, sem limites, sem mínimas noções de algo absoluto, de definitivo, as coisas se liberam e se encaminham para um lodo de mesmice em que nós perdemos a criatividade. E um ser humano que não sabe criar – seja amor, sejam filhos, sejam peças de teatro – não é humano. É um animal somente. Um animal que obedece a instintos, sem criticar, sem inovar, sem mudar, sem nada de belo porque se possa viver.

Eu votaria em Severino

"Há males que vêm para o bem" (Dito popular)

Se existe uma verdade sobre os geminianos é que eles mudam de idéia como quem troca de canal de televisão no domingo. Assim, depois da decepção inicial que me causou a eleição de Severino Cavalcanti para presidente da Câmara dos Deputados, eu começo a acreditar que isso foi bom, muito bom para o Brasil. Não, por favor, não me apedrejem ainda. Eu sei que isso parece um absurdo vindo de qualquer um que seja, ao menos, alfabetizado. No entanto, com a sua paciência, eu poderei provar que não estou louco.

Todos nós sabemos que existe no Brasil uma corrente de pensamento, caracteristicamente de direita, que é verdadeira âncora para o país. São pessoas de famílias quatrocentenárias que vivem sua vidinha simples de pobres homens ricos, quase todos velhinhos, de rosto noelístico, de fala mansa, com ternos bem alinhados, educados, inteligentes, sedutores. São os coronéis, painhos e padrinhos que ainda sim controlam e influenciam a vida política do Brasil. Os grandes expoentes desse clube são figuras como Paulo Maluf, Antonio Carlos Magalhães, José Sarney e muitos outros que muitas vezes sequer têm um cargo público.

O grande problema é que apesar de todos os grãos de areia de Itanhaém saberem que essas pessoas têm nos seus currículos apoios a ditaduras, desvio de recursos públicos, contas em paraísos fiscais, etc – apesar disso, nem o mais diligente dos investigadores consegue encarcerar esses homens. Por quê? Porque eles nunca agem pessoalmente. Eles conhecem os meandros do poder, eles são politicamente corretos, eles empregam muitos laranjas, eles contam verdades dizendo somente mentiras, enfim, eles agem, mas disfarçadamente.

Todos eles menos um: Sua Excelência, o dep. Severino. Severino é o homem mais sincero e verdadeiro do Brasil. Ele emprega seus parentes e não justifica isso com meias palavras, ele diz: “se tivesse mais, empregaria mais”. Ele quer aumento salarial e diz que quem não quiser que não pegue. Ele quer o bolo só pra ele e não se preocupa em disfarçar.

Ora, isso é um fato novo. Uma oportunidade inédita. Severino vai expondo a nudez do coronelato que ele representa. E essa exposição é tão chocante, tão horrenda que não há alternativa que não a de se acabar com esses absurdos propostos abertamente pelo presidente da Câmara. Em outras palavras, finalmente, um deles está na mira do povo. E se for um, vão todos.

Graças à sinceridade de Severino, se discute – seriamente agora – o fim dos privilégios aos deputados. Graças à sem-cerimônia de sua excelência, a lei que põe fim ao nepotismo caminha para ser aprovada ainda este ano. Graças à falta de papas na língua do deputado, o uso abusivo e ditatorial das MP’s caminha para extinção.

O que eu digo é que se amanhã o Severino disser que os deputados têm que trabalhar só as quartas e quintas-feiras certamente o repúdio mobilizará a opinião pública para dar este recado aos parlamentares: “Nós não só não aceitamos como exigimos que vocês trabalhem de segunda a sexta, onze meses por anos, como qualquer brasileiro”. Entende? É a deixa para a justiça agir. Os pais da ditadura, das torturas, da robalheira, do superfaturamento deram o deslize de que o Brasil precisava.

Viva Severino! Viva! Severino forever!

Arroz com catchup

“Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.” (Clarice Lispector)

Um dia, quando eu era pequeno, uns cinco ou seis, fui almoçar na casa de um amigo meu. Sentamos à mesa, panelas, pratos, copos, garfos, tudo normal até que esse meu amigo pede "mãe, pega o catchup"... catchup? Pra quê? Para meu espanto, ele pôs o catchup sobre o arroz, com gosto, bastante, eu senti nojo, onde já se viu: catchup no arroz? Asqueroso (na verdade, eu não pensei em "asqueroso" porque com cinco anos eu não sabia o que essa palavra dizia). E não foi só ele: a mãe dele, as irmãs dele, até o cachorro dele chegava àquele nível. Ainda por cima me ofereceram, eu disse não.
Por incrível que pareça isso tem a ver com a morte de Arafat! Aquelas cenas de adoração do povo por ele foram surpreendentes. Enquanto isso alguém em Israel pensava: "chorar por Arafat? Só se for de tanto rir!"
Somos 6 bilhões de pessoas e se o meu vizinho pode ter hábitos estranhos pra mim imagine quão estranho um mulçumano é para um judeu e vice-versa! Sinceramente, eu acho que a intolerância é a chave de tudo. Grande coisa, dirão. Eu não falo isso como quem acabou de descobrir onde está o espinho que faz doer o corpo todo, mas como alguém que não acredita que um problema originado de algo tão simples possa ser tão complexo. E essa intolerância vem dos ismos: o patriotismo, o fundamentalismo, o islamismo, o judaísmo, enfim todos esse conceitos imbecis que foram importantes no passado mas hoje, são laranjas podres espalhando podridão pelas outras laranjas. Eu já disse que tenho minhas críticas à religião, seja qual for, mesmo a minha. Se pudéssemos simplesmente esquecer nossas diferenças ou mesmo dar mais importância às nossas igualdades (que não são poucas) estaríamos bem melhor. Eu não estou desejando que muçulmanos e judeus, brancos e negros, Bush e Bin Laden, católicos e protestantes se dêem as mãos e saiam saltando pelos campos verdes numa manhã de sol. Mas com certeza é uma questão de educação. Se déssemos mais dinheiro às universidades, à escolas e menos à igrejas e aos governos, se apostássemos em pessoas mais científicas e menos religiosas. Talvez as coisas estivessem bem melhor.
Se alguém me oferecer catchup para pôr no meu arroz eu vou recusar porque não fui acostumado a isso. Mas não vou deixar de comer do lado de quem põe nem vou forçá-lo a deixar esse costume.