quinta-feira, 21 de junho de 2007

A Ideologia Alemã

Mais uma da série de e-books para todos! Agora é a vez d'A Ideologia Alemã, de Karl Marx.


A Ideologia Alemã (no original alemão: Die Deutsche Ideologie) é o primeiro livro escrito em parceria por Karl Marx e Friedrich Engels (mas não o primeiro a ser publicado em parceria). É considerado como um dos mais importantes livros escritos por estes dois autores e marca uma fase intelectual mais avançada de Marx, além do rompimento do mesmo com o chamado hegelianismo de esquerda. O objetivo fundamental da obra é fazer uma crítica aos "jovens hegelianos", principalmente os filósofos Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer e Max Stirner (que dão títulos aos três capítulos do livro), como produtores de uma ideologia alemã conservadora, apesar de se auto-denominarem teóricos revolucionários. Marx aponta para o fato de que as transformações perpetradas por estes filósofos se encontram somente no plano do pensamento sem nunca terem alcançado a realidade concreta. Isto por que cada um deles, criticando a teoria hegeliana, adotam um aspecto desta para fazer tanto, sem romperem com a falsa noção, segundo Marx, de que é o espírito humano o sujeito da história e não a atividade humana. Assim para tais filósofos, as idéias adquirem autonomia e passam a subjugar mundo, devendo o pensador, para transformar a realidade, substituir as idéias reinantes por outras que considere libertadoras e verdadeiras (uma consciência humana para Feuerbach, crítica para Bruno Bauer e egoísta para Max Stirner). A elaboração do manuscrito foi concluída em 1846, apesar de ainda não possuir uma redação definitiva. De acordo com o que é informado no prefácio do livro Para uma Crítica da Economia Política, não foi possível a imediata publicação de tal material. No entanto, os autores não demonstraram amargura com isso:

"Abandonamos tanto mais prazerosamente o manuscrito à crítica roedora dos ratos, na medida em que havíamos atingido nosso fim principal: ver claro em nós mesmos."

Publicado postumamente e parcialmente ao longo dos anos, chegou totalmente ao público apenas em 1933, simultaneamente lançado em Leipzig e Moscou. No Brasil, houve uma edição integral em dois tomos na década de 1980 mas, no entanto, atualmente existem apenas publicações parciais da obra no referido país. Tais problemas editoriais costumam ser apontados como ponto de origem de diversos desentendimentos entre vários movimentos político-ideológicoss existentes no mundo.

Fonte: Wikipedia

Ocupação da Reitoria

quarta-feira, 20 de junho de 2007

Os sete erros de Serra

A Constituição e a autonomia universitária

O que é ser de esquerda?

IGREJA

Dom Pedro Casaldáliga, bispo católico
Ser de esquerda deveria ser optar pelos pobres, optar pela justiça, condenar o capitalismo e o liberalismo, possibilitar participação real do povo. Sempre tem tido gente mais radical ou menos, mas hoje se está querendo justificar umas certas esquerdas que acabam sendo, quando muito, o centro. E eu digo que o centro não existe, ou é direita ou é esquerda. (...)

POLÍTICA

Chico Alencar, historiador e deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro.
Ser de esquerda tem algumas permanências. Em primeiro lugar, não perder a dimensão da utopia, da possibilidade pela qual se luta por uma sociedade igualitária, solidária e radicalmente democrática. Inclusive, com a socialização dos meios de produzir e de governar. Ser de esquerda é recusar que as idéias hegemônicas no mundo são as neoliberais, que se traduzem pelo caminho único na economia e pela despolitização da política. É não fazer efetivamente o jogo da direita aderindo com sutilezas cada vez menores ao programa neoliberal hegemônico. (...)

Jorge Bornhausen, advogado e político
Eu acho que é diletantismo, porque o próprio presidente da República, que se diz de esquerda, não segue qualquer linha ideológica, nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. Essa divisão entre esquerda e direita é algo absolutamente superado. Hoje, a política é uma política de resultados para o cidadão, e ele não está preocupado se o político se diz de direita, de esquerda ou de centro. (...)

UNIVERSIDADE

José Arthur Giannotti, doutor em Filosofia pela Universidade de São Paulo e professor emérito do Departamento de Filosofia da USP.
Esquerda é a não-aceitação do status quo. Ter esperança de que possamos ter um mundo melhor, e a certeza de que podemos aglutinar as pessoas para mudar.

Mas, no campo universitário, aqueles que se chamam esquerda são basicamente os burocratas da cultura. E aqueles que fazem as pesquisas e que contribuem realmente para o avanço das ciências e das artes são apolíticos. Embora, a meu ver, sejam a ponta renovadora da universidade.
(...)

Wanderley Guilherme dos Santos, doutor em Ciência Política pela Stanford University
Conceitualmente, eu não sei o que é esquerda. Eu sei na prática. Sei quem é de esquerda, quem não é de esquerda.

No contexto brasileiro, hoje, são personalidades e partidos de esquerda as pessoas comprometidas com a alteração da distribuição de renda, com a retomada de crescimento econômico, com a criação de graus de liberdade no comportamento internacional do país, com um aumento das oportunidades de participação política dos grupos menos favorecidos.
(...)

PROPAGANDA

Celso Loducca, publicitário, presidente e diretor de criação da agência Loducca 22.
Depois de tudo que já vivi, ser de esquerda é lutar por justiça social, por igualdade de oportunidades, pelo direito das minorias, por uma relação mais harmônica com o planeta, com os habitantes do planeta, lutar por um crescimento sustentável que ajude tanto a justiça social quanto o meio ambiente, é lutar por uma coisa assim meio louca que é a ética. Hoje, muita gente já está consciente dessas pautas todas e não necessariamente encara isso como de esquerda. Estão se tornando pautas da humanidade, não de esquerda e direita. Mas estão se tornando, ainda não são. Por isso, ser de esquerda é lutar por essas pautas de interesse da humanidade, não por pautas pessoais, ou de interesses específicos de grupos, que são pautas de direita. (...)

IMPRENSA

Paulo Henrique Amorim, jornalista, colunista do UOL. Tem o blog Conversa Afiada no portal IG.
Esquerda pra mim hoje, no Brasil, são as pessoas que diante da pergunta básica que se impõe à sociedade brasileira – o que é mais importante, reduzir os impostos ou distribuira renda?, e não vale responder os dois – acham que a prioridade é distribuir a.renda. (...)

Tereza Cruvinel, colunista política do jornal O Globo e comentarista da Globonews.
A propósito da lenda de que os rótulos ideológicos perderam o sentido e o significado no mundo de hoje, gosto de uma velha tirada da Simone de Beauvoir, que dizia, já naquele tempo: “Se lhe apresentarem um homem que se apressa a dizer que não vê diferença entre esquerda e direita, tenha certeza de estar falando com um homem de direita”. (...)

EMPRESARIADO

Paulo Skaf, presidente da FIESP e empresário do ramo têxtil
Houve um tempo em que as pessoas politizadas se dividiam entre a direita, o centro e a esquerda. Havia, inclusive, uma chamada “esquerda festiva”, como também uma “direita radical”. Era a época da Guerra Fria, do Muro de Berlim, do “comunismo vs. capitalismo”. Hoje, mesmo com a evolução do mundo, sobreviveram alguns conceitos daquele período que já fazem parte do passado. Infelizmente, em qualquer ideologia, ainda há radicais, defensores da violência, não democratas e inimigos do diálogo, da liberdade e da paz. Mas também ficaram alguns valores importantes, como a solidariedade, a fraternidade, a igualdade, que, muitas vezes até romanticamente defendidos pelos esquerdistas nos anos 60, 70 e 80, ainda ajudam a promover justiça social nos dias de hoje.

SINDICATOS

Artur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT – Central Única dos Trabalhadores.
Eu me considero de esquerda e, como socialista, não penso no modelo existente em outros momentos históricos, mas continuo sendo uma pessoa que pretende atuar na transformação do modelo econômico vigente no mundo. Não são só o crescimento e o desenvolvimento econômico que interessam, mas que tipo de crescimento econômico queremos para o Brasil e para o mundo. (...)

Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PDT.
Depois do PT, não sei se há esquerda ou direita. Eu me considero uma pessoa que vive defendendo o direito do trabalhador, defendendo um crescimento amplo. Se uma pessoa é qualificada (de esquerda) por aí, eu acho que sou, devo ser. Mas acho que esse negócio de esquerda está muito fora de moda atualmente. (...)

JUDICIÁRIO

Luiz Fernandes de Souza, Procurador Regional da República
Esquerda hoje é o Chávez, o Evo, Fidel. Também alguns padres que atuam nas Farc, lá na Colômbia. Claro que, afora esses, o próprio governo do Brasil também está nesse campo, tal como os governos do Chile, do Uruguai e da Argentina.

Ser de esquerda é o que o Alceu Amoroso Lima dizia: é caminhar para um socialismo com liberdade, com democracia, com distribuição ampla de bens. (...)

MOVIMENTOS SOCIAIS

André Fischer, criador do Mix Brasil, portal de informações GLBT, atua como dj e host do programa Rádio Mix Brasil no portal Mix Brasil.
(...) Teoricamente, ser de esquerda significa priorizar as questões sociais sobre as questões econômico-financeiras.

Dentro do movimento gay há uma corrente que ainda acredita que é impossível militar pela causa sem ser de esquerda. Até o começo desta década, a quase totalidade do movimento era composta por filiados de um espectro de partidos que ia do PSTU ao PT. Hoje, no entanto, essa linha tem espaço cada vez mais reduzido entre as lideranças. (...)

Gustavo Petta, presidente da UNE – Unial Nacional dos Estudantes – e aluno de jornalismo da PUC-Campinas
Ser de esquerda é você, diante da realidade que vivemos, diante das desigualdades, das injustiças, é você se inconformar e de alguma forma lutar contra isso. É lógico que eu acredito que só vamos superar essas realidades com transformações mais profundas e radicais, com a sociedade socialista. Agora, não necessariamente, para ser de esquerda, você precisa acreditar nessa transformação mais profunda. (...)

Sueli Carneiro, formada em Filosofia e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra
É acreditar que outro mundo é possível, no qual se pode viver livre, democraticamente, com justiça e igualdade social, respeito aos direitos humanos, econômicos, sociais e culturais; portanto, é o desafio de construir um mundo isento de qualquer forma de opressão e discriminação, sobretudo de gênero, raça e etnia. Isso é tudo o que o modelo hegemônico globalizado não pode assegurar. (...)

Fonte: Caros Amigos

domingo, 10 de junho de 2007

Entrevista – Olgária Matos

Polícia na USP é ‘mais do que autoritarismo’ , diz filósofa

A renomada filósofa Olgária Matos e outros 300 intelectuais firmam abaixo-assinado no qual rejeitam a 'ação violenta de desocupação do prédio [da Reitoria]' da USP. Para ela, os estudantes deram 'uma aula de democracia ao poder instituído na universidade'.

SÃO PAULO - Signatária de um abaixo-assinado que pede novas negociações da reitora Suely Vilela com os estudantes que ocuparam a Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), no campus Butantã, em São Paulo, a professora titular de Filosofia, Olgária Matos, chama de “absurda” a hipótese de a Tropa de Choque realizar o despejo forçado da ocupação. Olgária é especialista em filosofia política e História da Filosofia, com enfoque no iluminismo. Ela lançou livros como “Discretas Esperanças”.

Assim como Olgária, outros 300 professores da USP assinam a petição e rejeitam “qualquer ação violenta de desocupação do prédio [da Reitoria], tendo em vista a justeza de sua causa política em defesa da universidade pública”. Dentre os que assinam o documento estão os professores Antonio Candido, Alfredo Bosi, José Miguel Wisnik, Marilena Chauí, Franklin Leopoldo, Luiz Tatit, Paulo Arantes, Maria Victoria Benevides e Leda Paulani.

“Em vários países do mundo, a universidade está a salvo das ingerências policiais, porque ela é a única capaz de garantir pensamento livre”, diz Olgária, para quem as “novas idéias” não podem ser limitadas.

“É claro que muitos professores não acham [a ocupação] uma atitude que deve ser promovida ao status de arma política ou forma de luta política”, pondera a professora. Porém, ela faz questão de lembrar que “enviar a Polícia Militar, neste caso [de ocupação], é como intimidar um movimento civil, intelectual e político dos estudantes”.

Confira, abaixo, a edição das melhores partes da entrevista:

Carta MaiorComo a senhora vê uma provável desocupação da reitoria da universidade mediante uso da força policial?
Olgária Matos – Seria gravíssimo se isso viesse a acontecer. Parece-me que o significado das reivindicações dos estudantes é legítimo, o que deve ser discutido com a Reitora e não com a Polícia Militar.

Acredito que esta ocupação foi uma fórmula para estes jovens darem uma aula de democracia ao poder instituído na universidade. Eles devem ter consciência total ou parcial do que está acontecendo, e assim se faz o difícil aprendizado democrático que as autoridades universitárias não conseguem entender.

CM - A senhora, que tem uma longa história na universidade, já presenciou este tipo de ação da Polícia Militar dentro do campus?
Olgária - Eu só me lembro da ocupação do prédio da Maria Antônia [batalha ocorrida em outubro de 1968 entre estudantes de Filosofia da USP e da Universidade Mackenzie]. Foi o dia mais triste da história desta instituição e de todas as universidades do Brasil, se você quer saber.

CMQual o significado simbólico da presença da Polícia Militar no campus? Trata-se apenas de autoritarismo?
Olgária - Não é autoritarismo, é pior. Porque quando há autoritarismo, ele previne muitas vezes o uso da força policial, porque já faz [implicitamente] o papel de polícia. Não é que os policiais sejam maus. Mas o que significa a presença da polícia armada dentro de um campus, sendo que as nossas únicas armas são os livros e o pensamento?

É muito grave, porque se ocorrer isso, serão armas desiguais, e o recinto universitário é um lugar que fica distante do conflito armado urbano. Enviar a Polícia Militar neste caso é como tentar intimidar um movimento civil, intelectual e político dos estudantes. Seria responder a isso com a força bruta, então é totalmente absurdo.

CMA senhora diz que as reivindicações são legítimas. O que pensa da ocupação na Reitoria?
Olgária - Eu acho que os estudantes que lá estão têm consciência de que eles não representam todos os estudantes, todos os professores e todos os funcionários da universidade. Se eles discutiram e na dinâmica do movimento estudantil foi decidido assim, não cabe a nós julgar.

Não sei, mas talvez eles se sintam desatendidos e não encontraram quem intermediasse as suas reivindicações. Acho que [ocupar] foi uma atitude extrema, mas toda esta politização amadurece e ensina. Todas as reuniões, estas discussões, tudo isso esclarece a consciência dos atos dos alunos. Isso amadurece a vida política da universidade e dos estudantes. Antes de avaliar se é legítimo ou não, acho que vale olharmos a politização que o ato teve e em como isso vai ficar na história da universidade.

CM - Existe um consenso dentre os professores de que utilizar a força policial para fazer a desocupação da Reitoria é desnecessário?
Olgária - Os professores não querem violência na desocupação. O que não é consenso é sobre a ocupação ou não da Reitoria. Há professores que crêem que ocupar este prédio é um excesso de ativismo. Simbolicamente é um lugar muito importante, é o lugar da autoridade, a Reitoria, que é necessária para coesão de toda a vida universitária.

É claro que há muitos professores que não pensam que [a ocupação] é uma atitude que deve ser promovida ao status de arma política ou forma de luta política. Agora, parece que as últimas gestões da Reitoria e das direções dos cursos vêem os estudantes como uma parte desprezível ou secundária na vida universitária. Na verdade, a razão de ser da USP é a docência e a pesquisa, que não são duas coisas separadas.

A docência existe, então é essencial existirem aulas. Eu acho que os estudantes são a matéria nobre da instituição, e vejo uma desconsideração [da Reitoria].

Se a reitora Suely Vilela marca uma audiência pública e não pode aparecer [primeira razão do protesto dos estudantes], ela deveria enviar alguém, um representante. Os estudantes não estão [fazendo a ocupação] em uma causa vazia. Eles querem defender a universidade. Em vários países do mundo, a universidade está a salvo das ingerências policiais, porque ela é a única capaz de garantir pensamento livre. As novas idéias não podem ser cerceadas.

Então você tem que responder intelectualmente ao movimento estudantil, que está fazendo uma defesa da autonomia universitária. Não é só autonomia orçamentária, mas é de pesquisa e de deliberações. É uma questão de filosofia política séria. E mais: é uma questão de dignidade institucional. Não dá para inverter uma lei que foi conquistada com muita luta dos docentes, depois de um longo período de ditadura. Ou seja, estes decretos causam uma reação instantânea de quem entende o que é a universidade.

A sociedade brasileira entende mal o papel de uma universidade, infelizmente. Nosso país tem elites avarentas no seu conhecimento, que não querem compartilhá-lo com a sociedade. A universidade é mal-entendida, por isso há espaço para a reitora Suely não se dispor a negociar mais. Até agora, os professores tentaram fazer algumas comissões para negociar com ela. Mas Suely não recebe nem estes grupos, formados às vezes por professores universitários e intelectuais renomados.

CMA senhora acredita que os decretos de fato ferem a autonomia universitária?
Olgária – Claro que ferem! Só a idéia de ter um decreto já fere a autonomia. Não dá para dizer o contrário quando existe uma rotina consolidada na universidade mais importante da América do Sul, e que acaba alterada desta forma.

A universidade sabe o que faz, o que precisa e o que conduz. Ela presta periodicamente contas ao governo, e sabe a dinâmica de seus cursos, de suas publicações, de suas relações com docência, pesquisa, extensão, os congressos, as relações com outras universidades, com o ensino superior estrangeiro. O governo que está fora dela vai deliberar se o que a universidade faz está correto ou não, se tem qualidade ou não?

O governo é uma instância burocrática político-administrativa externa à universidade, que tem que dialogar. Mas não é na forma de decreto que se cria esse diálogo. Fazer os decretos é uma expropriação das práticas e consciência universitária, isso é gravíssimo.

Estamos vivendo o fim da universidade pública, gratuita e de qualidade. Não é um ataque isolado. Trata-se de um processo maior do que o governo de José Serra (PSDB-SP), que é só um emissário desta situação [de mercantilização] das universidades.


Fonte: Agência Carta Maior

quinta-feira, 7 de junho de 2007

A re-volta da política

Editorial - Carta Maior

Contra todos os prognósticos, a ocupação da USP resistiu à má-fé do tucanato, ao imobilismo de uma esquerda engessada no aparelho federal e de um PT em rota de colisão suicida contra a própria história. Bem-vinda re-volta da ação política.

O movimento estudantil brasileiro tem uma história de luta e resistência, em defesa da democracia e de um projeto de desenvolvimento para o Brasil, que combine crescimento, combate à pobreza e justiça social. Foram os estudantes que, na época da ditadura militar, assumiram a linha de frente contra um regime autoritário, implantado no país a ferro e fogo, com o apoio das elites que conspiraram para derrubar o governo constitucional de João Goulart. Foram os estudantes que doaram sua energia, sua paixão e, muitas vezes, sua vida, para iniciar um movimento de resistência que durou vários anos e que culminou com a redemocratização do país. Foram os estudantes que criaram, em 1961, através da União Nacional de Estudantes (UNE), o Centro Popular de Cultura, reunindo artistas e intelectuais de diferentes áreas com o objetivo de construir uma cultura nacional, popular e democrática. A história de mobilizações dos estudantes brasileiros é, portanto, uma história de luta em defesa da justiça, da liberdade, da democracia e da melhoria de vida de um povo sofrido.

Agora, em 2007, foi preciso a teimosia de um grupo de estudantes que ocupou e sentou praça na reitoria da principal universidade brasileira, a USP, para que a opinião pública tivesse conhecimento do bolor germinado no ambiente acadêmico, após 12 anos de hegemonia tucana em São Paulo. Enquanto pode, o governador José Serra (PSDB), que fez campanha eleitoral enaltecendo o longínquo passado de ex-presidente da UNE, apascentou a letargia na qual florescem os letais cogumelos de irrelevância da ação política no país. Primeiro, tentou desqualificar as acusações contra decretos que ferem a autonomia constitucional das instituições de ensino superior do Estado, classificando-as como “uma ação política” (sic) de grupos privilegiados, que estudam de graça, lotam os pátios do campus com carrões último tipo e - só faltou dizer - saem de lá às sextas-feiras para altas baladas em clubes privês.

O decreto, portanto, era “republicano”, encenou em seguida, para repetir o cacoete elitista sempre que se trata de colocar o interesse da maioria sob intervenção pressurosa da plutocracia. A neblina retórica mal disfarça o deslocamento de um político que flutua no cargo enquanto espera pelas eleições de 2010. Submetido a um orçamento quase todo ele carimbado e sob a canga de uma Lei de Responsabilidade Fiscal criada pelos seus pares, Serra clama por oxigênio orçamentário para saciar o apetite de um projeto eleitoral. O cargo administrativo, paradoxalmente, sufoca seu projeto de chegar ao poder federal. Está desconfortável no papel que inventou para si mesmo. Os R$ 5,5 bilhões de reais dos orçamentos da USP, Unesp e Unicamp - algo como 9% da arrecadação do ICMS - surgiram à sua frente como o cofre ao alcance das mãos. E não adiantou intelectuais de esquerda, seus amigos, professores universitários, advertirem que o tiro sairia pela culatra. O apetite eleitoral cegou a visão administrativa e até mesmo o tirocínio político.

Contra todos os prognósticos, porém, a ocupação resistiu à má-fé do tucanato, ao imobilismo de uma esquerda engessada no aparelho federal e de um PT em rota de colisão suicida contra a própria história. E porque resistiu, ficamos sabendo então, finalmente, o que há por trás da imagem idílica que os tucanos de bico longo e idéias curtas vendem sobre a USP.

Há uma lista de mais de 800 alunos na fila de espera por uma vaga na residência universitária do campus da “elite” do país. Há um grupo que se cansou de esperar e mora num cortiço debaixo da arquibancada do centro esportivo universitário. Há meninas que tomam banho no chuveiro do estádio espiadas por seguranças, porque os vidros estão quebrados e ninguém nunca vai consertar. Ficamos sabendo que a luz das arquibancadas se apaga às 20 horas e que é preciso arrastar mesas e cadeiras para debaixo de um holofote externo para poder estudar. Que há classes com mais de 50 e até 60 alunos na Geografia e na História; que o concreto do prédio da FFLCH está caindo aos pedaços há anos e não há verbas para reforma, assim como não há e não haverá verbas para contratar mais professores no futuro, e que a situação vai piorar, segundo o prognóstico do diretor da faculdade, o sociólogo Gabriel Cohn.

Ficamos sabendo que o custo mensal por aluno na principal universidade brasileira é da ordem de R$ 2.300, contra R$ 26 mil em Harvard; e que os R$ 2.300 incluem não apenas a “mordomia” da turma que se abriga em quartos de tripla ocupação, mas o salário dos professores; a aposentadoria dos funcionários idosos; parte da pesquisa; a manutenção de laboratórios e a produção acadêmica que aumentou 51% nos últimos anos, enquanto o número de alunos cresceu 70% e o de professores não chegou a um terço disso. Ficamos sabendo, enfim, que a frustração profissional dos formandos, a exemplo do que ocorre com a juventude mundial mastigada nas engrenagens da deslocalização fabril, segue uma linha de continuidade incubada no descuido, no desalento, na despolitização e na opacidade intelectual que lateja na rotina desbotada desse conto de fadas da universidade de elite, ainda vendido pela mídia quatrocentona.

A elite paulista na verdade vendeu a fábrica da família e os novos big boss querem uma universidade que sirva para adestrar quadros just-in-time. E pesquisas com a mesma agilidade mercantil. “Operacionais”, diria o governador no decreto obsequioso aos mercados, mas repelido pelos estudantes, professores e funcionários, decretos que ele já atenuou duas vezes, sem convencer. Não convence porque os estudantes, os mestres e os funcionários enxergam o reboque caindo pelas paredes, os salários despencando nos holerites e esperanças profissionais escorregando pelos mercados desregulados. E porque disseram que não cola, de repente uma palavra insípida, branca e lisa como um azulejo de banheiro voltou a cintilar no verbete gasto de um país, cujo léxico e nexo continua na mira da ortodoxia conservadora e pelo cinismo supra-partidário.

“Autonomia”, dizem as faixas e os ocupantes de reitorias pelo Estado afora. “A autonomia está garantida”, respondem, nervosos, assessores do governador, enquanto a massa acossa as vizinhanças do palácio. Que país, afinal, ou melhor, que projeto de sociedade finalmente pulsa outra vez sob essa palavra-ônibus que os robóticos editorialistas conservadores querem circunscrever numa cabeça-de-alfinete jurídico-burocrática ou acomodar num patinete infantil? Eis a pergunta que a partir de agora estudantes, professores e funcionários terão que encarar. Depois de ressuscitarem as ruas e os campi, chegou a hora de decifrar esse enigma que sacode as maçanetas e força os trincos do ambiente embolorado de pragmatismo e da preguiça intelectual no qual florescem os cogumelos da irrelevância partidária brasileira. Bem-vinda re-volta da ação política, que mais uma vez na história brasileira renasceu das universidades, das lutas de estudantes, professores e funcionários – e que ela venha para invadir outros ambientes, crescer e multiplicar-se.

Fonte: Agência Carta Maior

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Pedro Taques

Mais um e-book para o deleite dos historiadores. História da Capitania de São Vicente, de Pedro Taques.

Pedro Taques era filho de Bartolomeu Pais e Leonor de Siqueira, sobrinho-neto de Fernão Dias e tetraneto de Brás Cubas.

Dentre suas obras, destacam-se a Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica (em três volumes) e a História da Capitania de São Vicente.

Fonte: Wikipedia

sexta-feira, 1 de junho de 2007

O velho Capistrano

Próximos de relembrar os 80 anos da morte de Capistrano de Abreu, aqui vai uma pequena biografia do nosso historiador, tirada da Wikipedia (tudo bem, eu confesso) e um presente para os colegas historiadores e demais interessados - o download de um dos mais importantes livros do autor, Capítulos de História Colonial.

João Capistrano de Abreu fez os seus estudos primários e secundários em Fortaleza e no Recife, mudando-se para o Rio de Janeiro em 1875. Nesta cidade empregou-se como caixeiro, na famosa Livraria Garnier, passando a colaborar no periódico Gazeta de Notícias. Nomeado oficial da Biblioteca Nacional (1879), inscreveu-se em concurso do Colégio Pedro II para o cargo de professor de Corografia e História do Brasil (1883). A tese que apresentou versava sobre o Descobrimento do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI, considerada como uma das mais importantes obras em historiografia de história do Brasil. Aprovado, tomou posse do cargo em 23 de Julho de 1883, tendo-o exercido até 1899, quando Epitácio Pessoa, então ministro da Justiça, determinou anexar o ensino de história do Brasil ao de história universal. Em sinal de protesto, Capistrano recusou-se a lecionar a nova disciplina, preferindo manter-se em disponibilidade para se dedicar à pesquisa.

Fonte: Wikipedia